Título: Hábito milenar, chá tenta emplacar no Brasil com misturas exóticas
Autor: D'Ambrosio, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 23/06/2006, Empresas, p. B5

Ezequiel Lemos, importador da marca Inti Zen, acredita que o chá irá repetir o sucesso do vinho no país Até bem pouco tempo, o chá no Brasil era bálsamo para doentes. Agora, a bebida ganha blends especiais, combinações surpreendentes e sabores exóticos. Até o ritual de apreciar uma xícara, como fazem os orientais e europeus, já começa a ser incorporado ao hábito dos brasileiros - exímios bebedores de café, esse sim, uma unanimidade nacional.

Mesmo longe de ser popular como o cafezinho, o consumo de chá cresceu 50% no Brasil no último ano, mas ainda representa menos de 5% do total de bebidas. O inverno é o ponto alto do consumo, quando as vendas chegam a dobrar. Tanto os produtos artesanais, quanto a indústria aproveitam o momento para regar o mercado com novidades. Enquanto a Loja do Chá prepara receitas e drinks especiais, a Dr. Oetker - que já tem uma linha com 37 sabores - está lançando a Travel Senses com aromas e sabores do Marrocos, Índia e Inglaterra.

Poucos sabem, porém, que o que mais se toma no país não é o verdadeiro chá, mas uma infusão de ervas. Só pode ser batizada assim a bebida feita com derivados da folha Camellia sinensis. Chá ou infusão, o certo é que a segunda bebida mais consumida do mundo depois da água (são 1,5 milhão de xícaras ao dia, boa parte consumidas na porção oriental do globo), ganhou atenção da indústria. Em outubro do ano passado, a Kraft Foods estendeu a linha de chás Royal Blend - que só tinha chá preto - para os sabores hortelã, camomila, capim cidreira e erva doce.

A argentina Inti Zen, cujos produtos são assinados pela especialista em chás Inês Berton, resolveu acelerar o passo no Brasil. Em 2005, seu primeiro ano no país, a marca tinha uma presença tímida em empórios e restaurantes. Este ano, começou a fazer um trabalho para entrar nas grandes redes de varejo. Já está no Sam's Club e a partir da próxima semana, os chás estarão em oito supercenters Wal-Mart. A empresa também está em negociações com o Carrefour e deve estar nas gôndolas da rede francesa a partir de setembro.

Os chás da marca argentina misturam ervas orientais e sabores da América do Sul. São blends como chá preto da Índia com canela e gengibre ou erva do Ceilão com pétalas de rosa da Patagônia. As ervas são importadas do Oriente e os chás, produzidos na Alemanha e depois enviados à Argentina, onde são embalados e exportados para outros países, como Brasil, Chile, EUA, Portugal e Bélgica.

Depois dessa longa jornada, uma caixinha com 12 envelopes chega ao varejo brasileiro entre R$ 13,50 e R$ 15,00. A embalagem com 15 sachês da Travel Senses, da Dr. Oetker, tem preço sugerido de R$ 4,40.

A comparação com o vinho é inevitável. "Há 15 anos, havia pouquíssimas marcas nos supermercados e pouco se entendia de vinho. Hoje, é uma febre no Brasil", diz Ezequiel Lemos, responsável pela marca Inti Zen no Brasil. "Ainda demora, mas o chá vai no mesmo caminho."

Na onda dos produtos naturais, os chás orgânicos ganham espaço. A Weleda, especializada em chás terapêuticos, teve um crescimento de 20% nas vendas de chás de 2004 para 2005. Na Loja do Chá, Tee Gschwendner, que está há sete anos no Brasil com oito lojas e deve abrir outras duas em breve, 80% dos chás são orgânicos e todos são certificados. "O brasileiro está preocupado com a qualidade e a origem do produto", diz Carla Saueressig, representante da marca no Brasil.