Título: Demanda por eteno deverá mais do que dobrar até 2015
Autor: Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 23/06/2006, Empresas, p. B8

Um estudo sobre o futuro da petroquímica indica que o Brasil deverá acelerar a diversificação de suas fontes de matérias-primas para atender a demanda interna por produtos básicos, como o eteno e o propeno.

O trabalho, elaborado pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) com projeções para os próximos dez anos, sugere a dependência do Brasil nos projetos da Bolívia, de uma segunda expansão da Petroquímica União (PQU) e da unidade de petroquímicos básicos (UPB), patrocinada pela Petrobras em associação com o grupo Ultra.

Estes projetos são capazes de elevar a oferta de matérias-primas e produtos petroquímicos e, assim, evitar os déficits previstos para o início da próxima década. A Abiquim projeta um saldo negativo de eteno no período de 2008 e 2011. No caso do propeno, não há previsão para a reversão do déficit, mas ele deve diminuir depois de 2011. Há também pequenas expansões também na Rio Polímeros e a unidade de petroquímicos básicos da Braskem.

O eteno e o propeno são utilizados para fabricação de diversos produtos, tais como o polietileno e o polipropileno, que servem para a transformação de bens plásticos, como embalagens, brinquedos e peças de carros.

Sob a hipótese de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,3% em 2006 e 3,1% para os anos subseqüentes, a Abiquim estima que o consumo de eteno e propeno chegará a 6,5 milhões e 4,3 milhões de toneladas por ano, respectivamente, em 2015. Isso representa um salto de 116% e 150% em relação ao consumo do ano passado.

Em contrapartida, levando em conta os projetos de investimentos em curso e os já anunciados, a oferta destes dois produtos deve chegar a 5 milhões de toneladas de eteno por ano e 3 milhões de toneladas de propeno por ano.

"O balanço entre a oferta programada e a demanda de eteno indica um certo equilíbrio em 2015, se admitido que, além dos projetos em andamento, também os planos ainda não bem definidos irão se materializar efetivamente no período", informa o estudo da Abiquim.

As projeções sobre o aumento da oferta não chegam a ser sombrias desde que os novos projetos saiam do papel. "Mas há limitações em relação a produção de nafta [a principal matéria-prima do setor petroquímico brasileiro]. E muitas dificuldades com relação ao refino e do projeto na Bolívia", disse o diretor-executivo da Abiquim, Guilherme Duque Estrada.

No trabalho, a entidade adverte para o fato de o processo para separação do gás precisar ser feito na origem, "o que torna o gás natural, para a produção de olefinas, um bem regional." A Braskem, que prevê a construção de um pólo na fronteira com a Bolívia para a produção petroquímica, continua apostando no projeto mesmo diante das pressões do governo daquele país.

Em relação à nafta, existem limitações. É esperado um crescimento nas importações do insumo. Em 2005, as centrais importaram cerca de 3,2 milhões de toneladas de nafta. Mesmo com as previstas novas expansões da capacidade de refino, a produção interna de nafta voltada à petroquímica deve cair 2,9% em função do aumento do processamento do petróleo nacional, mais pesado do que o importado e que possui menor rendimento. Segundo a Abiquim, o déficit de nafta aumentará para algo em torno de 3,4 milhões de toneladas em 2015. Ela prevê também um decréscimo na produção mundial de nafta.

Um modo de diversificação das fontes de matéria-prima, segundo o trabalho, é a utilização dos gases de refinaria, como já acontece com a expansão em curso da PQU, situada na região do ABC paulista, que será alimentada parcialmente pelas unidades de refino da Petrobras, Revap e Recap. No entanto, o trabalho alerta para as dificuldades técnicas e ambientais deste tipo de fonte de matéria-prima fora do eixo paulista onde exige-se proximidade das centrais com as refinarias.

Por fim, a Abiquim avalia que a possibilidade de utilização do petróleo pesado para produção petroquímica, como a UPB, pode ser uma alternativa apesar de ser relativamente nova.

De qualquer modo, mesmo que todos os projetos saiam do papel, as projeções da Abiquim sugerem que o Brasil precisará buscar novas fontes de matérias-primas para aumentar, num segundo momento, sua oferta de produtos para atender futuras demandas depois de 2015 e, desta forma, impedir saldos negativos maiores..