Título: Campanha paulistana afeta até a disputa pela Antaq
Autor: Góes,Francisco
Fonte: Valor Econômico, 29/02/2012, Política, p. A10

A disputa pelo poder na Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) tende a se acirrar ainda mais e pode ser influenciada, indiretamente, pela entrada do ex-governador José Serra (PSDB) na corrida pela Prefeitura de São Paulo. Fonte graduada do PR, que controla uma das três cadeiras na diretoria da Antaq, disse que o partido é forte na capital paulista e que haveria vontade da legenda em acompanhar a candidatura Serra. Mas esse desejo pode não se concretizar se a legenda voltarà base aliada e reassumir o controle do Ministério dos Transportes, ao qual a Antaq é subordinada.

Por enquanto, disse a fonte, o PR não trabalha para fazer Tiago Lima, nome do partido na agência, diretor-geral da Antaq. "O partido espera resposta para ver se volta para a base aliada ou não." Lima tornou-se diretor da agência em abril de 2009 e, este mês, assumiu, como substituto, a diretoria-geral depois que Fernando Fialho, encerrou, no dia 18, seu segundo mandato à frente da agência. Maranhense, Fialho chegou à Antaq com apoio do senador José Sarney (PMDB-PA).

Desde a saída de Fialho, a agência está com um diretor a menos. A Antaq, que tem passado longos períodos com a diretoria incompleta. A última vacância na diretoria da agência se estendeu por um ano e quatro meses, desde fevereiro de 2010, quando terminou o mandato de Murilo Barbosa, ligado à Marinha, até junho de 2011, data em que assumiu como diretor Pedro Brito, ex-ministro da Secretaria Especial de Portos (SEP).

Nos meios portuário e de navegação, setores regulados pela Antaq, avalia-se que Brito disputa de forma acirrada a nomeação ao cargo com Tiago Lima, o atual diretor-geral substituto. Segundo pessoas que acompanham o processo sucessório, Brito não teria o apoio do seu partido, o PSB. Uma fonte da cúpula nacional do partido disse que não há decisão amadurecida em relação ao apoio a Brito para diretor-geral da Antaq. "É uma decisão que cabe à presidente Dilma." Já Tiago Lima pode contar com apoio partidário, sobretudo se o PR retomar os Transportes, mas, na visão de pessoas próximas ao partido, se ele fosse nomeado poderia ficar mais exposto politicamente em um momento em que tenta ser reconduzido à agência. O mandato de Lima como diretor termina em fevereiro de 2013.

No momento, Brito é apontado por muitos como favorito na corrida pela diretoria-geral da Antaq, cuja área de atuação desperta interesses nos meios político e empresarial pelo fato de a agência ser responsável por regular os setores de portos e de navegação, que envolvem grandes investimentos. Cearense e ex-afilhado político de Ciro Gomes, Brito chegou à agência em uma nomeação considerada como indicação pessoal da presidente Dilma Rousseff. Brito teria ido para a agência com a promessa de assumir, em um segundo momento, a diretoria-geral. Na transição entre os governos Lula e Dilma, Brito tentou manter-se à frente da SEP, mas perdeu o respaldo do PSB, que indicou para o cargo Leônidas Cristino, ex-prefeito de Sobral (CE) e que contou com o apoio dos irmãos Gomes, Cid e Ciro.

Na Antaq, um nome que surge com força para ocupar a cadeira vazia na diretoria da agência é o de Ênio Dias, que foi chefe de gabinete de Fernando Fialho. Dias contaria com o apoio de Sarney, hipótese negada pela assessoria do senador: "Sarney não quer colocar ninguém na Antaq." Mas o assessor reconheceu que o senador apoia Brito para diretor-geral. Procurado, Dias não retornou as ligações assim como Tiago Lima. A Antaq não se pronuncia. Outra hipótese, remota, embora não descartada, seria o novo diretor a ser indicado assumir também a diretoria-geral. O Ministério dos Transportes e a Casa Civil da Presidência não comentaram a possibilidade de Ênio Dias ser nomeado à agência.