Título: Com todo o gás até o fim
Autor: Amorim, Diego; Boachat, Juliana; Medeiros, Luísa
Fonte: Correio Braziliense, 01/10/2010, Cidades, p. 26

Candidatos ao governo prometem não descansar nestes últimos minutos de campanha, mantendo a militância ativa nas cidades do DF. Legislação determina o que pode e o que não pode ser feito na corrida por votos

» NOELLE OLIVEIRA

Nada de debates, propaganda na televisão e no rádio, discursos inflamados do alto de trios elétricos ou comícios. Agora, como prega a legislação eleitoral, os candidatos só poderão pedir votos olho no olho. Até as 22h de amanhã, ainda terão direito de distribuir santinhos e panfletos, além de participar de caminhadas e carreatas. Os quatro principais concorrentes ao Palácio do Buriti pretendem usar todo o tempo permitido para abraçar eleitores, refazer promessas e garantir o máximo possível de apoio nas urnas. Não custa lembrar que, no domingo, qualquer tipo de manifestação que se assemelhe a campanha está proibido.

O petista Agnelo Queiroz, líder nas pesquisas de intenção de votos, avisa que não vai parar quieto nestes dois últimos dias de campanha. Desde o início, ele participa de agendas sempre cheias de compromisso, de segunda a segunda. Após vencer as prévias do partido por um placar apertado, o ex-ministro do Esporte conseguiu reunir 11 legendas em uma ampla coligação e não demorou a pôr os pés nas ruas. Agnelo participou de carreatas, caminhadas, missas, cultos almoços e jantares em todo o DF, para se tornar mais conhecido entre os eleitores.

Na reta final, o petista garante que, respeitando as restrições, não deixará a campanha esfriar. Ao contrário. Hoje caminha pelas avenidas Comercial Norte e Sul, em Taguatinga, pelo Setor Comercial Sul, pela Rodoviária do Plano Piloto e Esplanada dos Ministérios. Amanhã se concentrará em Ceilândia, o maior colégio eleitoral do DF. A palavra de ordem é mobilização total. Não vamos descansar um segundo, diz Agnelo, que convoca a militância para votar cedo no domingo e passar o resto do dia fiscalizando e garantindo a lisura do pleito.

Ritmo Joaquim Roriz, candidato quando a campanha começou, ao contrário do ex-ministro do Esporte, não teve pressa para ser visto nas ruas. Priorizou reuniões internas, apostando na popularidade obtida em quatro mandatos, três deles por voto direto. Roriz só iniciou o corpo a corpo 11 dias após a legislação permitir. Chegou a alegar, à época, que não queria estragar o clima de Copa do Mundo. Antes de passar o bastão para a mulher, Weslian, usou quase todo o tempo de TV, rádio e os comícios para convencer a população de que era candidato, apesar de estar com o registro impugnado.

O Supremo Tribunal Federal (STF), em um julgamento histórico, nada decidiu. Diante do impasse, Roriz desistiu de concorrer. Com o apoio do marido, Weslian Roriz, no tempo que lhe resta, pretende acelerar o ritmo da campanha iniciada na última sexta-feira. A candidata de última hora deve pedir votos e participar de carreatas na Estrutural, em Samambaia e no Riacho Fundo. Outra estratégia prevista é circular pela Rodoviária do Plano Piloto. Em 8 de setembro, o marido dela esteve no local como candidato. A visita reuniu milhares de militantes e foi considerada um marco da campanha.

Toninho do PSol, empolgado com a melhora no desempenho nas últimas pesquisas, passará hoje e amanhã por importantes colégios eleitorais, como Ceilândia, Taguatinga e Planaltina. Vai continuar investindo no corpo a corpo para tentar cativar os indecisos. O volume de eleitores que ainda não têm candidato ao GDF ou que pretendem votar em branco atingiu 19% no último levantamento do Instituto CB Data, divulgado na semana passada. Vamos continuar nas ruas, seguindo o que manda a lei. Onde for permitido, vamos panfletar. Essa é a hora, diz.

Confiança O candidato do PSol mais bem colocado nas pesquisas em todo o país também aposta na repercussão positiva que teve nos últimos debates televisivos. Ver a opinião das ruas é um motivo a mais para continuar trabalhando, afirma. A opção por manter a militância viva até o fim é no intuito de levar a decisão do pleito para o segundo turno e estar nele, claro. Pode dar qualquer coisa nessas eleições. Quem arriscar um resultado pode se dar mal. Estamos confiantes, comenta.

Como os demais candidatos, o representante do Partido Verde (PV) na disputa, Eduardo Brandão, promete ir ao encontro do eleitorado até amanhã à noite. Percebemos ainda uma grande indefinição por parte dos eleitores. Isso é resultado de todo o trauma político pelo qual o brasiliense passou, avalia. O candidato acredita que estará em um eventual segundo turno. Estou me preparando e confiante para isso, diz. A proibição de falar em carros de som hoje e amanhã não preocupa Brandão nem Toninho. Os dois não recorreram a essa estratégia ao longo da campanha, devido aos altos custos.

Fique atento

O que já está proibido » Propaganda na televisão e no rádio » Debates » Comícios e reuniões públicas » Discursos em carros de som

Permitido até as 22h de amanhã » Distribuição de santinhos, adesivos e panfletos » Caminhadas » Carreatas (com veiculação de jingles ou mensagens, mas sem discursos)

No domingo

Quem pedir votos nas proximidades das zonas eleitorais durante o horário do pleito das 8h às 17h deste domingo pode ser preso e pagar multa de até R$ 15 mil, conforme a legislação eleitoral. Outros crimes eleitorais no dia da votação estão listados em uma cartilha do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), disponível no site www.tre-df.jus.br/default/eleicoes_2010

Genro de ministro em vídeo com Roriz

» Ana Maria Campos » Lilian Tahan

Seis dias após Joaquim Roriz (PSC) desistir de sua candidatura ao GDF, a coligação Esperança Renovada divulgou ontem um vídeo, gravado no escritório da casa do ex-governador, que mostra conversa entre ele e o advogado Adriano Borges, genro do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto. No vídeo, os dois estariam negociando honorários no valor de R$ 4,5 milhões em troca de interferência no julgamento sobre o registro de candidatura do político, que fora enquadrado na Lei da Ficha Limpa e havia recorrido ao STF. Em cinco minutos de gravação, Adriano se oferece para representar Roriz no processo. Em troca, daria garantias de que o sogro um dos maiores defensores da aplicação da Ficha Limpa nas eleições deste ano iria se declarar impedido de votar no caso Roriz. O vídeo foi feito no início de setembro, antes de Ayres Britto assumir a relatoria do recurso do ex-governador no STF.

Adriano Borges é casado com Adriele Ayres Britto, filha do ministro. Os dois são sócios em escritório de advocacia, que chegou a entrar no processo, quando a peça estava no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) depois, os nomes do casal foram retirados. E-mails trocados entre Borges e Eládio Carneiro, advogado da coligação Esperança Renovada, confirmam as negociações prévias. Na gravação, Roriz afirma: Gostaria da sinceridade sobre o voto do seu sogro. E ele responde: A única coisa que eu tô precisando é que ele não leve Com isso, ele não vai participar Tá impedido.

O advogado Eri Varela, que representa a coligação de Roriz, afirma que vai entrar hoje no STF com uma notícia-crime contra o ministro, a filha e o genro. Em entrevista ao site IG, que publicou o vídeo, Ayres Britto negou qualquer ligação com as negociações conduzidas pelo genro e se disse surpreso pelo teor da conversa. O ministro afirmou considerar que o marido da filha teve apenas uma conversa profissional.

Linha do tempo

2009

16 de setembro Joaquim Roriz anunciou sua saída do PMDB, com a pretensão de se lançar candidato ao Palácio do Buriti este ano. Naquele mesmo mês, no dia 30, o ex-governador se filiou ao PSC, dizendo que venceria a disputa e superaria os seus quatro governos anteriores.

2010

Fevereiro Durante três dias, Roriz foi ao ar nas redes abertas de televisão e rádio para se pronunciar sobre a crise política no Distrito Federal, revelada com a Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. É tão vergonhoso, é tão escandaloso, e eu fico numa indignação, eu fico numa vergonha, dizia Roriz. Em 27 de junho, ele confirmou a candidatura ao governo local.

Agnelo Queiroz e Geraldo Magela participaram de prévias do Partido dos Trabalhadores (PT) para definir qual dos dois seria o candidato da legenda ao Buriti. Durante a disputa, recaíram sobre Agnelo denúncias de evolução patrimonial suspeita e de invasão de área pública, ao construir uma quadra de tênis e um pequeno lago ao lado de sua casa no Lago Sul. As intrigas chegaram a ameaçar as prévias.

21 de março Agnelo Queiroz venceu as prévias com 4.656 votos (56,21%). Magela arrebatou 3.627 (43,79%). Votaram 8.355 militantes do PT. Após o embate, os dois negaram desunião interna. A nossa disputa terminou, agora, esse é um projeto do PT do DF, disse, à época, Agnelo. Dias depois, Magela se lançou candidato à reeleição na Câmara dos Deputados.

6 de julho A campanha começou oficialmente. Agnelo, com o intuito de se tornar mais conhecido, ganhou as ruas imediatamente, acreditando na força de uma coligação formada por 11 partidos, incluindo o PMDB do vice na chapa, Tadeu Filippelli. Roriz, com nove legendas coligadas, só começou a pedir votos 11 dias depois, com uma grande carreata por várias cidades do DF.

4 de agosto Os juízes do TRE-DF indeferiram a candidatura de Roriz, com base na Lei da Ficha Limpa (a publicação da decisão ocorreu em 10 de agosto). Os advogados de defesa dele ingressaram com recurso no TSE para tentar reverter a decisão, mas o tribunal confirmou sentença da instância inferior. Em 3 de setembro, um recurso extraordinário foi interposto pela equipe do ex-governador, para ser julgado pelo STF.

22 e 23 de setembro Em um julgamento histórico que durou dois dias , a pouco mais de uma semana do pleito, os ministros do Supremo Tribunal Federal chegaram a um empate e não conseguiram decidir sobre o recurso acerca da validade da candidatura de Roriz.

24 de setembro O ex-governador desistiu de concorrer ao GDF e colocou em seu lugar a mulher, Weslian Roriz.

28 de setembro O Ministério Público Eleitoral deu parecer contrário à candidatura de Weslian Roriz, afirmando que a substituição do cabeça de chapa deveria ter sido feita até 20 de agosto.