Título: Estudos mostram que ganhos com a rodada diminuem
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 23/06/2006, Brasil, p. A3

Os mais recentes estudos sobre o impacto de uma Rodada Doha bem sucedida mostram que os benefícios da liberalização comercial são surpreendentemente baixos. O crescente pessimismo sobre ganhos na rodada foi constatado ontem num seminário na Organização Mundial do Comércio (OMC), reunindo acadêmicos, funcionários de entidades internacionais e negociadores.

Antoine Bouet e Valdete Berisha, do International Food Policy Research Institute, de Washington, avaliaram diferentes estudos e modelos, concluindo que as expectativas de ganhos diminuem na medida em que novos dados da negociação são incorporados nos cálculos, confirmando o ditado de que "o diabo está nos detalhes".

De um aumento de bem-estar global de 1,7% na média em 1999, a estimativa caiu para 1,5% em 2002, 1,3% em 2004 e apenas 0,5% no ano passado. O impacto sobre o número de pessoas que sairia da linha de pobreza globalmente varia de 72 milhões a 446 milhões.

Para o Brasil, um dos ganhadores da abertura agrícola global, o benefício para a faixa mais pobre da população seria criação de riqueza de 1,5% a 5,5%.

Estudos recentes mostram que o milagre asiático, a experiência do Chile, a liberalização da China e da Índia conduziram a altas taxas de crescimento econômico, mas que a expansão real da renda foi inferior a 3%.

Mesmo se o cenário esboçado por diferentes modelos não é tão favorável como anos atrás, os autores insistem que há ganho real com a abertura pela Rodada Doha. O principal ganho na liberalização agrícola vem do corte de tarifas e não da redução de subsídios domésticos. Essa é a tese defendida pelos Estados Unidos, Banco Mundial, Organização para Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas contestada pela União Européia, que hoje em Bruxelas também apresentará estimativas sobre ganhos na rodada. (AM)