Título: EUA esperam concessões, afirma novo embaixador
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 23/06/2006, Brasil, p. A3

Os EUA esperam que o Brasil faça novas concessões, ampliando a abertura do seu mercado para produtos industriais e prestadores de serviços estrangeiros, e acreditam que esse movimento seria decisivo para romper o impasse que travou as negociações entre os países-membros da Organização Mundial do Comércio (OMC).

O recado foi transmitido pelo novo embaixador americano no Brasil, Clifford Sobel, que foi sabatinado ontem pela Comissão de Relações Exteriores do Senado americano e deve ter sua indicação confirmada nas próximas semanas. O posto está vago desde novembro do ano passado, quando o embaixador John Danilovich foi embora do Brasil após um ano e meio na função.

"Pretendo trabalhar com o Brasil para que tome as decisões importantes que podem servir de exemplo para outros [países] e levar a uma conclusão exitosa da Rodada Doha", disse Sobel, lendo declaração preparada para a sabatina. "Devemos aproveitar este momento histórico para reduzir as barreiras ao livre comércio e conceder acesso novo e real aos mercados, não apenas no setor agrícola, mas também na indústria e nos serviços."

O Brasil pensa completamente diferente, como o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro na rápida conversa telefônica que teve no início da semana com George W. Bush. Para o Brasil, o impasse na OMC só será rompido depois que os EUA e a União Européia aceitarem cortes maiores nos subsídios e nas tarifas que protegem seus produtores agrícolas contra competidores como o Brasil.

A sabatina de Sobel durou 40 minutos e foi uma expressão do reduzido interesse que as relações com o Brasil despertam em Washington atualmente. Somente um integrante da comissão, o republicano Norm Coleman, do Estado de Minnesota, ficou até o fim. Um senador apareceu apenas para agradecer a acolhida que recebeu numa visita à Holanda quando Sobel era o embaixador americano no país.

Além dos parentes de Sobel e de três assessores do Departamento de Estado, apenas sua professora de português, três jornalistas brasileiros e três diplomatas da embaixada brasileira nos EUA acompanharam a sessão. Ela terminou minutos antes do início da partida entre Brasil e Japão, que Sobel disse que tentaria assistir.

Coleman fez dez perguntas e Sobel fugiu de todas as cascas de banana atiradas na sua frente. Quando o senador mencionou o escândalo do mensalão e perguntou se a corrupção no Brasil era preocupante, Sobel falou sobre a cooperação entre o Brasil e os Estados Unidos na administração de postos da alfândega. Quando o assunto era a pirataria no Brasil e as disputas em torno de patentes de medicamentos, Sobel afirmou que o Brasil "tem feito progressos" nessas áreas.

Diante de uma pergunta sobre a influência do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na região, Sobel declarou que os Estados Unidos têm interesse em reforçar o Brasil como um "líder" na região, que "dê o exemplo para seus vizinhos" e represente um contraponto ao avanço de lideranças radicalmente antiamericanas como Chávez.

Sobel, um homem de negócios que fez fortuna com uma empresa de telefonia na internet chamada Net2Phone, levantou mais de US$ 400 mil para candidatos do Partido Republicano nos últimos anos. Ele disputou a indicação do partido para concorrer a governador do Estado de Nova Jersey neste ano, mas perdeu a vaga para outro candidato. Anunciada logo depois, sua indicação como embaixador no Brasil foi vista por muitos como um prêmio de consolação.