Título: Na convenção, Lula defenderá crescimento e reforma política
Autor: Costa, Raymundo e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 23/06/2006, Política, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assume neste sábado a condição de candidato à reeleição com um discurso no qual promete levar o país ao crescimento sem desarrumar a economia. A exemplo de seu principal adversário, o tucano Geraldo Alckmin, o presidente deve eleger a educação como uma das principais prioridades do segundo mandato, além da reforma política, promessa da campanha de 2002 que não saiu do papel.

Lula chega à convenção nacional do PT sem conseguir ampliar formalmente o leque de alianças que o elegeu em 2002, mas sem as desconfianças dos mercados que, na eleição passada, o fizeram impor ao Partido dos Trabalhadores a aliança com o PL e - mais tarde - escrever a Carta ao Povo Brasileiro.

Como em 2002, o PT continua um partido refratário a alianças, o que pode levar dois aliados históricos a concorrer em faixa própria - mais o PSB, que decide na quarta-feira se entra na chapa do presidente, que o pequeno PCdoB, cuja decisão é prevista para o final do mês. A dificuldade de composição com o PT nos Estados é o que afasta as duas siglas, o que, se for confirmado, pode levar o presidente a perder quase a metade do tempo de TV no horário eleitoral gratuito.

Independentemente do PT, Lula desde já articula uma frente de centro-esquerda que possa dar sustentação ao governo no Congresso que incluiria, além dos aliados tradicionais, o PMDB, partido cuja maioria das seções estaduais deve apoiar o presidente já no primeiro turno das eleições. Há também uma incipiente conversa com setores do PSDB, que deve ganhar força após as eleições, se o presidente for reeleito.

A maioria congressual está na origem da crise política que consumiu o governo Lula a partir da segunda metade de 2005. Em seu discurso na convenção nacional do PT, segundo a versão que estava sendo trabalhada pelo Planalto na noite de quinta-feira passada, Lula promete fazer a reforma política no segundo mandato, por considerá-la fundamental para tocar as reformas que precisam ser feitas para que o governo possa avançar na economia.

Lula dirá por que pleiteia um segundo mandato: para fazer o desenvolvimento com equidade e distribuição de renda, sem abrir mão do equilíbrio fiscal. Segundo a versão preliminar do discurso, o presidente avalia que, no primeiro mandato, conseguiu a fórmula de fazer o país crescer sem desarrumar a economia, e que deve prosseguir nessa linha, só que com índices mais altos de crescimento econômico.

A crise que atingiu o governo e o PT também entraram no roteiro, com elogios ao fato de que o partido, apesar de tudo, deu a volta por cima, e a promessa de que as denúncias serão apuradas. Havia dúvidas ainda sobre a extensão e tom da resposta a ser dada aos ataques da chapa adversária. Pelo texto que estava sendo trabalhado ontem, Lula daria uma resposta dura aos que estariam tentando nivelar a campanha por baixo, mas alguns assessores do presidente avaliavam ser melhor um discurso "olhando pra frente".

Ao contrário de pronunciamentos anteriores do presidente, o texto preparado para a convenção passou por várias mãos. O Planalto também fez um levantamento exaustivo de números, especialmente daqueles que emoldurassem melhor uma comparação dos quatro anos de governo Lula com os oito anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas Lula estava preocupado em não mencionar números em demasia, para não tornar o discurso monótono.

Em termos de comparação com os oito anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o discurso diz que nunca nenhum presidente conseguiu criar tantos empregos formais, com carteira assinada - 4 milhões, arredondados. Na campanha eleitoral de 2002, Lula candidato dizia que o país precisava criar pelo menos 10 milhões de empregos.

Criticado por seu desempenho na área, Lula deve eleger a educação como uma das prioridades do governo. "Educação, educação e educação", dizia um dos dirigentes do PT que tiveram acesso ao texto. Na convenção do PSDB que formalizou sua candidatura, Geraldo Alckmin também dedicou a maior parte de seu discurso à educação. A atuação do governo Lula nesse setor também é o objeto dos ataques de outro pré-candidato a presidente, Cristovam Buarque (PDT), que fala sobre o assunto com a autoridade de ex-ministro da Educação de Lula.

O programa de governo de Lula está sendo consolidado pelo assessor de Assuntos Internacionais do Planalto, Marco Aurélio Garcia, e deve incorporar sugestões também dos partidos que vierem a se aliar formalmente com o presidente. Nas eleições de 2002, a coligação de Lula contava com cinco partidos: PT, PL, PCdoB, PMN e PCB. Nenhuma dessas siglas ainda definiu sua participação ma eleição de 2006. Os partidos mais atingidos pelo escândalo do mensalão, como PL, PTB e PP, também ficaram de fora da chapa, mas é fato que Lula também não se empenhou para tê-las a seu lado.

Na origem da dificuldade do PT para fazer alianças está a antiga disputa entre as correntes internas do partido. Em Santa Catarina, Brasília e Distrito Federal, por exemplo, a Democracia Socialista (DS), uma das tendências da sigla, tem projetos próprios dos quais não abre mão em favor de uma aliança com PSB ou PCdoB, porque pretende se fortalecer para uma futura disputa do comando partidário e até mesmo para a partilha do governo Lula em um eventual segundo mandato. O PCdoB parece mais acessível a um entendimento, mas o PSB avalia que sozinho terá mais condições de atingir à a cláusula de desempenho nas eleições (5% dos votos nacionais).