Título: Suspeitos de envolvimento deixam CPI das Sanguessugas
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 23/06/2006, Política, p. A6

O líder do PP na Câmara, Mário Negromonte (BA), e o deputado Benedito de Lira (PP-AL) deixaram a CPI das Sanguessugas, criada para investigar o envolvimento de parlamentares com a máfia acusada de vender ambulâncias superfaturadas. Ambos são suspeitos de participar do esquema e, por este motivo, no início da tarde, o presidente da CPI, Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), já ameaçava impedir sua participação na comissão. Além dos dois, Inaldo Leitão (PL-PB) também foi citado pela ex-servidora Maria da Penha Lino, tida como uma das líderes do esquema, como um dos parlamentares envolvidos com a quadrilha.

"Vamos ver qual é o nível de envolvimento desses deputados. Precisamos saber o que há de concreto. O regimento interno prevê regras de suspeição e impedimento que devem ser seguidas", dizia Biscaia, na reunião de instalação da CPI.

A quadrilha das sanguessugas trabalhava infiltrada no Ministério da Saúde, onde Penha era servidora, e na Comissão de Orçamento do Congresso. Em depoimento à Polícia Federal, a funcionária pública listou 81 parlamentares envolvidos no caso, dentro os quais apareciam os três membros da CPI.

Biscaia não comentou o envolvimento de cada um. Prefere aguardar as investigações e a análise dos documentos já existentes. A CPI deverá fazer visitas à Polícia Federal, Ministério Público e ao Supremo Tribunal Federal (STF): "Eu não tenho conhecimento dessa listagem. Pretendo examiná-la a partir de quarta-feira".

Havia a expectativa da indicação da senadora Serys Slhessarenko (PT-MT). Ela consta da lista de supostos pagamentos feitos pela Planam, maior empresa envolvida no esquema. Mas o nome da parlamentar foi substituído e não aparece nem entre os suplentes.

Na reunião de ontem, foi indicado também o relator da CPI. Será o senador Amir Lando (PMDB-RO). A escolha foi feita por Biscaia. "Dentre os indicados do PMDB, me parecia o mais preparado e experiente", afirmou o deputado. Há temor no Senado e na Câmara sobre o trabalho de Lando. O líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), foi citado por Maria da Penha em mais de um depoimento e um assessor dele foi flagrado em gravações telefônicas negociando com a quadrilha. "Não tenho compromisso com ninguém, apenas com a verdade", defendeu-se Lando.

O senador Romeu Tuma (PFL-SP) pediu seriedade. "Já tivemos caso gravíssimo de CPI que não teve votação de relatório por causa de embates entre relator e presidente", afirmou. Ele fazia referência à CPI do Banestado, encerrada sem votação de texto final em função das divergências entre o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), presidente, e o deputado José Mentor (PT-SP), relator.

A comissão marcou a primeira reunião para quarta-feira, às 10h. Serão votados requerimentos para a convocação de Maria da Penha, dos donos da Planam, dos delegados responsáveis pelas investigação e do procurador Mário Lúcio Avelar. Biscaia pretende fazer sessões reservadas para ouvir todas essas pessoas. O presidente da CPI parece ser contrário a longos depoimentos, no modo como eram feitos nas CPIs dos Bingos e dos Correios, recentemente encerradas no Congresso. "Vamos nos fixar na análise dos documentos, sem fazer audiência infindáveis", afirmou. (Com agências noticiosas)