Título: José Alencar revela mágoas por negociação pública da vaga de vice
Autor: Lyra, Paulo de Tarso e Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 23/06/2006, Política, p. A6

Alencar, a 48h da convenção que oficializará recandidatura de Lula: "Talvez não tenha feito por merecer esse convite" Às vésperas da convenção nacional do PT para oficializar a recandidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice José Alencar destilava mágoas com a indefinição sobre o companheiro de chapa de Lula nas eleições de outubro. "Talvez não tenha feito por merecer para receber esse convite", disse Alencar, sem disfarçar a contrariedade com o fato de ter sido exposto enquanto o presidente negociava seu posto com o PMDB e, nas últimas horas, com o PSB.

Além do convite formal ao PMDB, a indefinição de Lula ficou evidente quando o Planalto anunciou que a escolha do vice talvez ficasse para o final do mês, com a convenção do PT, marcada para amanhã, oficializando apenas o nome de Lula. Ontem, no final tarde, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, disse ser possível que o vice já seja escolhido na mesma convenção e que apostava na repetição da chapa de 2002, quando Alencar foi escolhido vice a fim de aparar as desconfianças do empresariado.

Lula gostaria de um vice do PMDB para assegurar a sustentação de um grande partido no Congresso. Alencar hoje está filiado ao PRB, sigla que provavelmente desaparecerá após as eleições pois dificilmente cumprirá a cláusula de desempenho (5% dos votos nacionais, sendo que 2% em nove Estados). Mas tão logo ficou claro que o PMDB não teria condições de fazer uma coligação formal com o PT, Alencar e aliados saíram a campo para viabilizar a repetição da chapa de 2002. Os ministros mineiros - Luiz Dulci (Secretaria Geral), Walfrido Mares Guia (Turismo) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) desencadearam um movimento em favor da manutenção de Alencar, ao qual aderiram, entre outros, o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, e as bancadas federal e estadual do PT de Minas Gerais.

Alencar, no entanto, não esconde a contrariedade. Ele lembra que, há quatro anos, quando recebeu o convite para ser vice de Lula, os outros três candidatos a presidente chegaram a sondá-lo para o mesmo cargo. "Naquela época, eu era importante, eu era senador", ironiza. Em entrevista concedida ontem, afirmou que pode ser candidato a qualquer coisa, até a deputado estadual. Mas acrescentou que ninguém pode ser candidato a vice. "Para isso é preciso um convite".

Apesar de faltarem então 48 horas para a convenção do PT que homologará a candidatura de Lula e os integrantes do partido admitirem que a decisão poderia ficar para a próxima semana, Alencar se disse tranqüilo. "Eu não estou desconfortável com essa situação, vocês é que ficam dizendo que eu estou desconfortável", disfarçou.

O vice-presidente afirmou que é cristão, católico, apostólico, romano e costuma rezar uma prece ensinada no Sermão da Montanha, o Padre Nosso (ou Pai Nosso). "Um dos trechos da oração fala: 'seja feita a sua vontade, assim na terra como no céu'. Em qualquer circunstância, temos a proteção de Deus. Provavelmente, Deus está me protegendo", declarou, sem dizer protegendo do quê.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), elogiou Alencar ao sair de encontro com o presidente Lula, no Palácio da Alvorada. Afirmou que o atual vice merece toda a consideração do PT e do governo. "Já conversei com ele, está tudo bem em relação a convenção de sábado", ponderou o petista. Ele também admitiu que as conversas com o PSB só devem ser concluídas na próxima semana. Berzoini não quis afirmar se a legenda fortaleceu-se como uma alternativa para substituir José Alencar. "Em nenhum momento de nossas conversas eles colocaram isso como prioridade. Além disso, eles sabem que isso não resolve os problemas regionais", desconversou o presidente do PT.