Título: Aplicador precisa estar ciente de que renda fixa tem risco
Autor: Luquet, Mara
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2006, EU & Investimentos, p. D1

Outro mito muito comum no mercado brasileiro é o de que a renda fixa não tem perdas. "Todo o mercado tem volatilidade, inclusive os papéis de renda fixa", lembra Marcos Elias, analista da Link Corretora. "Tente, por exemplo, vender suas jóias todos os dias, você verá que o preço varia", diz.

O mesmo ocorre com os papéis de renda fixa que mudam de preço diariamente, mas, em situações de estabilidade, a variação de preço é muito pequena. Mas basta lembrar o que ocorreu em 2002, quando títulos de renda fixa do governo sofreram uma forte pressão vendedora e seus preços despencaram. Naquele momento, muitos fundos de renda fixa exibiram prejuízos nas cotas por conta dessas perdas.

Outro mito apontado por Elias é o de que as gestoras de recursos domésticas se beneficiarão caso o Brasil obtenha a nota de grau de investimento. O chamado "investment grade" deverá provocar uma queda nas taxas de juros reais do país. "Essas taxas cairão para a casa dos 4% a 5% ao ano", diz Elias.

A volatilidade dos mercados diminuirá bastante, segundo ele, e a bolsa já terá poucas pechinchas. "O que os gestores locais vão operar?", questiona. Ele diz que as administradoras de recursos domésticas se especializaram em operar distorções do mercado local e não sabem operar como fundos hedge tradicionais, com visão global. "Pensamos ainda com o software antigo, ou seja, nossas cabeças, como gestores, estão acostumadas a operar em situações de risco e mercados nervosos", diz Elias.

Outra fantasia que se criou no mercado brasileiro é a de que a China conseguirá manter o atual ritmo de crescimento de sua economia por muitos anos. Segundo Elias, 70% dos 10% de crescimento do PIB chinês em 2005 foram provocados por investimentos em expansão de capacidade de produção. "Hoje há um enorme excesso de capacidade na China e, por conta disso, haverá uma forte deflação no país este ano", diz Elias. "Se 70% do motor do PIB chinês hoje é injustificável, como poderemos afirmar que a China manterá o atual ritmo de crescimento?", acrescenta. (ML)