Título: Que onda é essa?
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 04/10/2010, Política, p. 4

A razão do segundo turno na eleição para presidente da República tem nome e sobrenome:Marina Silva (PV).Alguns analistas,com certa razão, atribuirão a causa ao alto índice de abstenção (quase 18%) e aos votos nulos (3%) e brancos (5%), que teriam jogado para baixo a votação deDilma Rousseff (PT) nas periferias e grotões.

Esse elevado índice de abstenção, porém, já era esperado em razão de pleitos anteriores.O que surpreendeu foi a arrancada deMarina na reta final, principalmente noDistrito Federal, no Rio de Janeiro e em algumas regiões metropolitanas, como Belo Horizonte.Nesses colégios eleitorais houve uma onda verde, provocada por eleitores mais preocupados com a questão ambiental e o desenvolvimento sustentável.

Mas não houve apenas isso. Pela primeira vez na sucessão presidencial, o voto religioso¿tanto evangélico como católico¿teveumpeso ideológico específico.O alto clero católico apoiouMarina; a cúpula das igrejas evangélicas, não, mas sem conseguir barrar a identificação de muitos de seus fiéis com a candidata do PV.

E no segundo turno,para onde irão esses votos? Emambos os casos, seja o voto verde, seja o voto religioso, tantoDilma quanto Serra terão que correr atrás de corações e mentes. Ambos terão que tomar posição em relação à transversalidade da questão ambiental e temas polêmicos sobre comportamento, como a questão do aborto e as relações de gênero.

Do ponto de vista prático, Dilma mantém o favoritismo. Bastaria evitar uma transferência maciça de votos deMarina para Serra.Oproblema é que esticou a corda com a candidata verde na última semana de campanha; não será fácil receber seu apoio. Além disso, Serra está sendo beneficiado pelo resultado das eleições estaduais em São Paulo,Minas Gerais e Paraná, das quais o PSDB emerge como um robusto partido de oposição em condições de alavancar o candidato no segundo turno.