Título: As armas de PSDB e PT na prorrogação
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 04/10/2010, Política, p. 4

Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) se enfrentam no segundo turno tendo mais um mês de corrida pelo Palácio do Planalto enfrentando momentos diferentes nas campanhas. O tucano aposta em repensar a estratégia, incrementar a arrecadação financeira e renovar o marketing eleitoral. A petista reúne esforços para manter a militância motivada, espantar o clima de derrota instalado no comitê central e ter o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na medidacomocabo eleitoral para garantirumavitória que parecia consolidada.

A nova rodada de votação despencou como uma derrota no comitê petista, por conta do desempenho abaixo do esperado nas urnas e da surpresa em relação aos votos de seus dois adversários.

A concorrente do PV,Marina Silva, foi a responsável por jogar água na estratégia do presidente Lula de transformar o pleito num plebiscito entre os que aprovavam e os que rejeitavam seu governo.

Opresidente com quase 80% de aprovação foi incapaz de transferir os votos necessários para a pupila. Dilma acabou com percentual parecido com o de Lula na eleição de 2006. Os principais responsáveis pelo segundo turno são os três maiores colégios eleitorais do país.

No Rio de Janeiro,Dilma conseguiu superar os 43%. Entre o eleitorado mineiro, teve 46% dos votos.

Esses dois estados deram mais de 50% a Lula em 2006 e acabaram por compensar a derrota que ele teve emSão Paulo. Nesta eleição, a campanha apostava queDilma conseguiria sair vitoriosa entre os paulistas, mas o resultado frustrou as expectativas: Serra ganhou por margem de quatro pontos.NoDF,Marina desbancou os dois.

Arranhões A eleição ficou apertada para Dilma nas últimas semanas, quando ela foi alvejada pela denúncia que causou a demissão de Erenice Guerra, seu antigo braço direito na Casa Civil, e por uma ressaca dentro do voto conservador de religiosos evangélicos. As denúncias de irregularidades na Receita Federal também servirampara arranhar a imagem da candidata.

Dentroda campanha,umadas causas apontadas para o segundo turno é umerro de estratégia em relação à internet. Os responsáveis pelo marketing on-line foram incapazes de ver o crescimento da pregação contra Dilma em vídeos, e-mails e blogs que exploraram posições mal explicadas dela sobre religião, emespecial o aborto.

Quando percebeu-se a onda contrária, o remédio surgiu tarde. Dilma reuniu-se com lideranças evangélicas e católicas a três dias da eleição e, no sábado, apareceu para o batizado de seu neto de 23 dias em Porto Alegre. Coma nova rodada de votação, a campanha espera que agora essa investida religiosa tenha efeito e arrefeça as resistências dos conservadores.

Anéis O segundo turno era tido como tabu porque Dilma não queria abrir ainda mais espaços para partidos como o PTB ou fazer a negociação com o PV. Ela terá de abrir espaço previsto para o PMDB, que tem o deputado Michel Temer (PMDB-SP) como vice e está ávido por apresentar a fatura da eleição, em caso de vitória. Nesse cenário, Dilma vê-se obrigada a ceder todos os anéis das mãos aos aliados e ficar refém das vontades deumgrande leque de partidos.

A negociação comMarina Silva (PV) é prioridade.

O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai se ocupar das conversas com a ex-ministra.

A candidata verde dá sinais de preferir a neutralidade. O presidente do PV, José Luiz Penna, anunciou a preferência por Serra. Por isso, Lula entrará em campo usando como carta o apelo emocional.Marina Silva gosta de falar que suas duas maiores inspirações políticas são Luiz Inácio Lula da Silva e o sindicalista ChicoMendes, mortoemdezembro de 1988.

Outra investida do PT é emcima da ala serrista do PTB, personificada no presidente da legenda Roberto Jefferson (RJ) e no dirigente da ala paulista CamposMachado. Esse serviço ficará a cargo do senador GimArgello (PTB-DF) e de Jovair Arantes (PTB-GO), que apoiaram Dilma.

Jefferson abandonou Serra na última semana e anunciou voto em Plínio de Arruda Sampaio.

Mas fazer essa negociação é considerada de alto risco porque representaria um maior cacife para os dois políticos petebistas. Plínio foi o francoatirador da campanha. Criticou todos. Apesar disso, a cúpula da campanha de Dilma acredita que os eleitores do político do PSol fazem uma migração ideológica para o PT.

A semana começa com a avaliação dos erros, mas os dirigentes querem acelerar as negociações com aliados a exemplo do que Lula fez em 2006, quando na primeira semana já tinha o apoio dos partidos.Os governadores reeleitos serão utilizadoscomocabos eleitorais. JaquesWagner (BA), Eduardo Campos (PE) e Cid Gomes (CE) terão agenda no Nordeste para ampliar a votação de Dilma emcima de quem optou por Marina. O trabalho mais relevante estará nas mãos de SérgioCabral (PMDB), reeleito governador do Rio de Janeiro, estadoemque a candidata verde ficouemsegundo lugar.