Título: Mercado de TV prevê um período de acomodação de preços
Autor: D'Ambrosio, Daniela e Bispo, Tainã
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2006, Empresas, p. B4

Quem assistiu aos jogos da Copa na TV que já estava na sala e postergou a compra do plasma ou LCD para logo depois do mundial - esperando uma nova rodada de redução dos preços - pode se decepcionar. O discurso dos fabricantes é um só: os preços não vão baixar nessa ressaca pós-campeonato. Satisfeitas com o saldo de vendas da Copa, Philips, Samsung, Semp Toshiba e Gradiente não prevêem nova redução de preços. E o varejo segue na mesma direção, inclusive com aumentos pontuais de valor.

A guerra de preços travada entre as principais empresas do setor no primeiro semestre, para aproveitar a Copa, foi inédita. As TVs de tela plana de 42 polegadas começaram o ano custando R$ 10 mil e hoje são vendidas entre R$ 6 mil e R$ 8 mil. Chegou a faltar TV no mercado. A última redução em massa aconteceu cerca de duas semanas antes da Copa, quando houve uma redução de preços entre 10% e 12%.

A líder de mercado Philips, com participação de 26%, foi a última empresa a anunciar preços mais baixos. No dia 29 de junho - dois dias antes da eliminação do Brasil - a Philips reduziu a TV de plasma Ambilight de 42 polegadas de R$ 10.999 para R$ 9.999. Mas, segundo José Fuentes, vice-presidente da Philips, foi uma estratégia para aumentar o volume de vendas de Ambilight, uma tecnologia exclusiva da Philips. "Foi uma redução específica. Queríamos diminuir a diferença, de R$ 3 mil para R$ 2 mil, da Ambilight para a TV tradicional", diz Fuentes.

A partir de agora, no entanto, as empresas garantem que não haverá nova queda - pelo menos no curto prazo. "A concorrência forte aconteceu antes da Copa. Agora, os preços já estão muito competitivos, próximos ao custo de produção", afirma José Roberto Campos, vice-presidente executivo da Samsung. No primeiro semestre, além da forte concorrência, a nacionalização de boa parte dos produtos e o dólar baixo também contribuíram para reduzir os preços. "Agora, não tem ninguém muito estocado para justificar uma tendência de queda dos preços."

Se o dólar subir, dizem os fabricantes, pode até haver um reajuste para cima dos preços.

No varejo, não há sinais de que as aparelhos de televisão de plasma terão preços menores com o fim da Copa, no próximo domingo. Pesquisa realizada pelo Valor em Casas Pernambucanas, Extra Eletro, hipermercado Extra, Casas Bahia, Ponto Frio, Carrefour e Wal-Mart indicam que os preços do produto de 42 polegadas nas redes varejistas continuam, em geral, no mesmo patamar do início do campeonato. O preço da TV de plasma de 42 polegadas variava, ontem, entre R$ 6.599 e R$ 8.399 nas lojas pesquisadas.

Há, inclusive, exceções ao movimento de redução dos preços, ocorrido nos últimos meses. Na loja da Casas Pernambucanas de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, a TV de 42 polegadas da Gradiente entrou em promoção na semana passada por R$ 5,5 mil. Já nesta semana, o preço aumentou para R$ 5.999. Mesmo assim, abaixo do encontrado em outras redes varejistas (R$ 6.999). O mesmo produto da Gradiente, que há duas semanas era vendido por R$ 6.499 no supermercado Extra, na unidade do Jaguaré, está à venda por R$ 6.999.

A rede Extra Eletro, do grupo Pão de Açúcar, comemora os resultados obtidos no período. As vendas de televisão de plasma nas lojas Extra Eletro, supermercados Extra, e na loja virtual pontocom Extra "tiveram um crescimento exponencial este ano", afirma Rita Bellizia, gerente da categoria de Eletro do Grupo Pão de Açúcar. Segundo ela, o comércio desse tipo de produto alcançou o auge nos meses de maio e junho deste ano. Nesse período, as vendas dos aparelhos de plasma foram dez vezes maior, comparado às mesmas lojas e aos mesmos meses do ano passado.

Mas, em julho, a velocidade das vendas declinaram um pouco. Em parte, a decepção dos brasileiros no fatídico dia 1 - quando a seleção canarinho perdeu para a França - fez com que a ânsia por esse tipo de produto diminuísse. De acordo com Rita, houve um pico de vendas no primeiro jogo da seleção e uma queda gradativa durante o campeonato. "Se o Brasil estivesse, por exemplo, participando da final, poderíamos sentir um novo impulso de consumo", diz.

Mas isso não significa que o consumidor deixou de ir às compras. "O brasileiro é tão louco por futebol que ele continua assistindo aos jogos mesmo após a desclassificação do Brasil. E continua chamando amigos e a família para assisti-los em sua casa", diz Rita.

Ela explica que esse comportamento faz com que as vendas dos aparelhos de plasma continue em alta, se comparado ao mesmo período do ano passado.

Os números preliminares da indústria indicam que a Copa foi realmente gorda. Se, para os brasileiros, a Copa foi uma decepção, para os fabricantes de TV, o mundial não poderia ter sido melhor. As vendas de televisores de plasma e LCD entre janeiro e junho cresceram mais de dez vezes em relação ao mesmo período do ano passado. Subiu de 13 mil peças para 150 mil.

A Semp Toshiba ficou sem estoque de plasma e LCD, já no mês de maio e no primeiro semestre, as vendas de televisores da marca registraram um aumento de 80% em volume em relação ao mesmo período de 2005.

A Philips registrou um crescimento de 60% nas vendas de televisores entre janeiro e junho. O mercado total de TVs teve uma expansão de 50% no período. "As vendas de tela plana da Philips cresceram 30 vezes", diz o executivo José Fuentes.

A Gradiente, que teve uma das estratégias mais agressivas nos meses que antecederam a Copa, estava praticamente fora desse mercado até novembro do ano passado e já tem, segundo a própria empresa, uma fatia de 15%.