Título: Publicidade deve deixar brasileiros na reserva
Autor: Moreira, Assis e Sobral, Eliane
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2006, Empresas, p. B5

A fatura da derrota prematura da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de futebol é uma desvalorização das estrelas que decepcionaram os torcedores. A queda no valor pode variar de 10% a 20% na assinatura de novos contratos com clubes e patrocinadores.

Quem faz o cálculo é ninguém menos que Zé Roberto, o meio-campo que foi um dos poucos a se salvar da mediocridade apresentada pela equipe brasileira. "A Copa é uma vitrine e é claro que cai o valor, no contrato e na imagem, de 10% a 20%'', disse ele ontem em Genebra.

Antes de embarcar para a Alemanha, o conjunto de jogadores convocados por Carlos Alberto Parreira valia cerca de US$ 1 bilhão - considerando-se contratos entre os jogadores e seus respectivos clubes e com patrocinadores e anunciantes. "A depreciação do conjunto hoje é muito grande. Deve ter perdido no mínimo uns US$ 100 milhões", calcula Rafael Plastina, diretor de marketing da Informídia - empresa especializada em calcular exposição e retorno de mídia para anunciantes. Afinal, "a última impressão é que fica", acrescenta o meia Zé Roberto.

Mas o jogador não aplica a depreciação a seu próprio passe. Ele lembra que em dois dos quatro jogos, saiu com o troféu de melhor em campo - contra a seleção da Austrália na primeira fase e contra Gana, nas oitavas-de-final. Agora, após oito anos no futebol alemão, decidiu não renovar o contrato com o rico Bayern de Munique. Mas diz que recebeu "muitas propostas" da Inglaterra, Espanha e França. "No meu caso a Copa está sendo positiva, apesar dessa derrota amarga", disse Zé Roberto.

Mas se o estrago não foi tão grande para o meio-campista do Bayern de Munique, o mesmo não se pode dizer de jogadores como Roberto Carlos, Ronaldo e até Ronaldinho Gaúcho. "Acho muito difícil que algum anunciante faça um contrato novo com esses jogadores hoje. Ninguém, em sã consciência, contrataria um Roberto Carlos para dizer que usa tal produto", afirma o publicitário Eduardo Fischer. Mas ele mesmo lembra que se na vida nada é definitivo, na publicidade, então. "Depois de umas cinco partidas atuando bem e marcando gols, Ronaldinho Gaúcho recupera a imagem."

Até lá, porém, os craques devem ficar mesmo na geladeira e passar algum tempo sem aparecer em novas campanhas. Até mesmo os anunciantes que recorreram à imagem dos jogadores top de linha da Seleção Brasileira preferem adotar uma postura mais retraída e evitam falar dos planos futuros. A exceção é a Gillette que pode lançar nos próximos dias a segunda fase da campanha com Kaká para seu aparelho Mach3Turbo Gol. "Kaká não está entre os piores. Ele vinha jogando bem e na partida contra a França e estava contundido", lembra Plastina.

Enquanto uns estão em baixa, outros podem lucrar com belas exibições. Edgar Diniz, presidente da TopSports - empresa que tem os direitos de transmissão no Brasil dos campeonatos espanhol, italiano e inglês, acredita que depois da Copa, o interesse dos brasileiros por esses três torneios deve aumentar. "Há jogadores que se destacaram muito e tornaram-se mais conhecidos aqui, como o português Cristiano Ronaldo que joga no Manchester United".

Outro exemplo de que nem tudo está perdido, para os jogadores brasileiros, é que enquanto Ronaldo e Ronaldinho se escondem da torcida, Zé Roberto e o zagueiro Lúcio, estiveram ontem em Genebra para receber um convite: tornarem-se embaixadores de esporte das Nações Unidas.