Título: Crivella assume Pesca e PRB negocia com PT apoio a Haddad
Autor: Exman,Fernando
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2012, Política, p. A6

A presidente Dilma Rousseff nomeou ontem o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) para chefiar o Ministério da Pesca e Aquicultura, num movimento que poderá beneficiar a candidatura do petista Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo e reaproximar o governo dos evangélicos. A negociação se deu em meio a polêmicas que colocaram governo e religiosos em campos opostos em discussões sobre aborto, união civil de homossexuais e combate à homofobia.

Crivella substituirá Luiz Sérgio (PT-RJ), que retorna à Câmara após passagem apagada pelo Executivo. No início da administração Dilma Rousseff, Luiz Sérgio ocupou a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência. Na esteira da crise que provocou a queda do ex-ministro Antonio Palocci da Casa Civil, trocou de cadeira com Ideli Salvatti.

"A mudança permite a incorporação ao ministério de um importante partido aliado do governo", explicou a Secretaria de Imprensa da Presidência da República por meio de nota. A ministra das Relações Institucionais reforçou o discurso. "O PRB sempre foi um partido extremamente aliado, firme e atuante na defesa das ações do governo", destacou Ideli Salvatti. O PRB tem dez deputados e um senador.

"Conforme é do conhecimento de todos, a presidenta da República decidiu que trocará o comando do ministério", comentou o ex-ministro, em tom ressentido, por meio de um comunicado.

A negociação do partido com o governo em torno do cargo foi fechada na sexta-feira passada, em reunião do presidente do PRB com Dilma. Na tarde de ontem, Marcos Pereira acertou os últimos detalhes com a ministra Ideli Salvatti, da Secretaria de Relações Institucionais, e Dilma pediu que o então ministro Luiz Sérgio voltasse de suas férias para demiti-lo. A posse de Crivella está prevista para amanhã.

Na conversa com Dilma, o presidente do partido queixou-se da falta de espaço no governo e cobrou a fatura de ter apoiado Dilma na campanha presidencial de 2010, quando a petista foi associada à defesa do aborto. "Foi uma promessa antiga, da época da campanha. Foi um cumprimento de acordo postergado", comentou Pereira. O partido ameaçava deixar a base governista e tornar-se "independente". "Já tivemos o ministério que hoje o Moreira Franco ocupa [Assuntos Estratégicos], mas estávamos sem espaço ", afirmou o presidente do PRB, lembrando o ex-ministro Mangabeira Unger.

Depois de tudo acertado, Marcos Pereira convocou Russomanno e outros líderes paulistanos do partido para uma reunião no domingo, na qual relatou o acordo e assegurou que a candidatura do correligionário não estaria em xeque. Em resposta, Russomanno disse ser um soldado do partido.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já verbalizou a pressão do PT para que o PRB desista de lançar candidato próprio na eleição municipal de São Paulo. Em recente conversa com Pereira, Lula disse que seria importante as duas legendas estarem juntas já no primeiro turno. O presidente do PRB ponderou que não teria como abandonar a pré-campanha de Russomanno, mas já deixou aberta a possibilidade de união no segundo turno. "Não temos o que perder com a candidatura", argumentou o líder da sigla na Câmara, deputado Antonio Bulhões (SP).

Assim que foi divulgada a nomeação de Crivella, o vice-presidente da República e presidente nacional licenciado do PMDB, Michel Temer, ligou para Pereira marcando reunião amanhã. Em pauta, está a candidatura de Celso Russomano. As conversas do PRB com o PMDB têm sido frequentes e na sexta-feira da semana passada Russomano encontrou-se com o pré-candidato pemedebista e deputado federal Gabriel Chalita.

O PT, com a pré-candidatura de Fernando Haddad, também tenta atrair Russomano, mas o entendimento com o PMDB está mais avançado. "Na política nunca podemos dizer que algo é impossível", disse Pereira, ao ser questionado sobre a retirada de Russomano da disputa. "Mas tenho disposição em manter a candidatura", comentou.

Russomano disse que não pretende desistir. "Não existe essa possibilidade", afirmou. O pré-candidato, se continuar na disputa, deve fazer discurso crítico ao ex-governador e provável candidato José Serra (PSDB). Pretende reforçar que o tucano "não tem palavra", já que prometeu ficar quatro anos quando eleito prefeito da capital, em 2004, mas deixou o cargo dois anos depois para disputar o governo.