Título: Máquina chinesa já ocupa 50% do mercado
Autor: Nakamura, Patrícia
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2006, Empresas, p. B8

Pelizzari, presidente da Sandretto, aposta na prestação de serviços para manter vendas de injetoras de plásticos A combinação entre dólar barato e estagnação no mercado interno colocou em alerta os fabricantes brasileiros de equipamentos. O real valorizado está incentivando a compra de maquinário importado, inclusive os fabricados em série. Geralmente, esses itens são de baixo valor agregado, como injetoras de plásticos, fresadoras, tornos, prensas, guinchos e carros de transportes.

No ano passado, a importação desses equipamentos respondia entre 20% e 40% do consumo brasileiro. Neste ano, de acordo com empresários ligados ao setor, esse patamar deve superar os 50%.

Boa parte desse material vem da China e de Taiwan, países que derrubam o preço de seus produtos para ganhar mercado ao redor do planeta. Enquanto isso, as importações de países como Grã-Bretanha, Alemanha, Suíça e Japão - que produzem equipamentos mais sofisticados - estão praticamente paradas.

"É um sinal preocupante, já que as empresas só estão substituindo equipamentos em fim de vida, ao invés de aproveitarem o dólar baixo para atualizações tecnológicas. Isso mostra que parte da indústria brasileira de transformados vai 'andar de lado'", disse Newton de Mello, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). "Para evitar demissões em massa, fabricantes de máquinas estão cortando custos de produção."

Enquanto o consumo aparente de máquinas no Brasil cresceu apenas 1,2% no primeiro quadrimestre de 2006 em comparação ao mesmo perído do ano passado (dados mais recentes da entidade), as importações dispararam. Só as vendas de itens chineses aumentaram 150% e já somam US$ 450 milhões entre janeiro e abril deste ano.

De acordo com números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), as exportações de bens de capital de janeiro a maio somaram cerca de US$ 6,15 bilhões. No mesmo período, as importações chegaram a US$ 7,31 bilhões segundo a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento (Secex).

Em comparação ao mesmo período em 2005, as importações cresceram 28,1%, enquanto as vendas externas subiram apenas 10%. Entretanto, em um ano o déficit na balança comercial do setor saltou de US$ 129 milhões para R$ 1,15 bilhão - ou 796%.

Os fabricantes de injetoras de plástico - usadas na produção de brinquedos, autopeças e utensílios domésticos, entre outros - são os que mais reclamam da concorrência. De janeiro a maio foram importadas 285 injetoras da China e de Taiwan, o equivalente a 50% do consumo brasileiro desse equipamento, afirmou Guido Pelizzari, presidente da Sandretto, de Arujá (SP) e presidente da Câmara Setorial de Máquinas para Plástico da Abimaq. O consumo total este ano deve ser igual ao de 2005, de cerca de duas mil máquinas. "Esse é um forte sinal de que as empresas estão deixando de fabricar produtos de plástico no país, preferindo importar o item acabado."

A Himaco, que tem fábrica em Novo Hamburgo (RS), vem cortando o preço de suas máquinas desde o começo do ano para fazer frente ao produto asiático. Também resolveu apostar em nichos de mercado mais sofisticados - não revelados pela empresa - que não são atendidos pelos chineses. "Devemos reduzir nossa produção de 500 para 300 máquinas neste ano, além de investir em pós-venda e serviços", afirmou o gerente comercial, Cristian Heinen.

Acusando os chineses de "franco-atiradores", o executivo alega que a vida útil de uma injetora brasileira é de cerca de 15 anos, enquanto as chinesas não passam de três. "Em casos extremos, porém, os equipamentos asiáticos chegam a custar até 50% menos que similares brasileiros. Nesse quesito a competição é injusta", disse.

A empresa gaúcha também viu suas exportações beirarem a zero com a valorização do real perante o dólar. Há dois anos, 5% de seu volume de produção foi destinado para países da América Latina. A Himaco concluiu recentemente a modernização de sua fábrica, com investimento de R$ 6 milhões. A capacidade de produção é de 40 máquinas mensais, mas hoje apenas 30 saem da linha de produção.

Pelizzari, da Sandretto, diz que o custo médio por quilo de uma máquina da China é de cerca de US$ 2 (o mesmo que é pago para obtenção do insumo para a produção no Brasil), enquanto o quilo de uma máquina alemã não sai por menos de US$ 13 e uma francesa, US$ 18.

A Indústria Romi, de Santa Bárbara D´Oeste (SP), também fortaleceu as divisões de prestação de serviços e de pós-venda para cativar clientes que pensam em optar por similares chineses, afirmou Hiçao Misawa, diretor da área de máquinas-ferramenta da empresa. Por enquanto, o executivo disse que a empresa consegue conter o avanço asiático e cumprir as metas de volume e faturamento (não revelados).

"Mas está sendo complicado manter a competitividade, principalmente com o dólar tão desvalorizado", disse. A empresa deve terminar no ano que vem a ampliação de sua linha de produção de máquinas (incluindo as injetoras), dentro de um projeto de R$ 40 milhões.