Título: Serra diz que, se eleito, fica quatro anos na prefeitura
Autor: Cunto,Raphael Di
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2012, Política, p. A7

Em sua primeira entrevista depois de se tornar oficialmente pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, o ex-governador José Serra (PSDB) afirmou ontem que ainda não abandonou o projeto de chegar à Presidência, mas que, se eleito prefeito, só vai pensar nisso quando acabar seu mandato. "O sonho [de ser presidente] pode permanecer. Pelo menos até 2016 está adormecido", afirmou.

"Agora, se vou ser candidato em 2018, dependerá das circunstâncias. Ainda sou pré-candidato a prefeito, não dá para pensar tão longe", comentou. Na eleição seguinte, de 2018, Serra teria 76 anos - o presidente mais velho a tomar posse foi Getúlio Vargas, que tinha 68 anos em 1951, quando foi eleito pelo voto direto.

O tucano reconheceu que sua renúncia à Prefeitura de São Paulo para concorrer ao governo do Estado em 2006 será usada pelos adversários na campanha - ele chegou até a registrar em cartório o compromisso de não abandonar o cargo, mas fez isso um ano e três meses depois de tomar posse. "Sou candidato por necessidade política e por gosto de ser prefeito", disse. "Não vou falar em promessa porque dá a impressão de que pode não ser cumprida. É fato, vou ficar", reiterou.

Serra discorda, porém, que isso influenciará a opinião dos eleitores. "Quero insistir que, não obstante ter saído em 2006, ganhei a eleição entre os eleitores da capital para o governo estadual [2006] e para presidente [2010]. Em 2010, embora tenhamos perdido a eleição, ganhamos em 11 Estados, inclusive São Paulo", afirmou.

O tucano lidera as pesquisas de intenção de voto, com a preferência de 21% dos eleitores, segundo pesquisa de janeiro do Instituto Datafolha. Ele tem, entretanto, a maior taxa de rejeição, com 35% dos entrevistados dizendo que não votariam nele. Serra avaliou, porém, que o índice "não é tão alto" e que a rejeição não é resultado de sua renúncia anterior, mas do tipo de pergunta feita na pesquisa, da inimizade dos eleitores que votam no PT e da população que o identifica como um personagem nacional devido ao histórico de disputas presidenciais. "Quando eu era governador, minha rejeição jamais passou de 15% de ruim e péssimo", defendeu-se.

O ex-governador disse que mudou de ideia sobre concorrer à prefeitura por necessidade política, inclusive de manter o apoio do atual prefeito, Gilberto Kassab (PSD), que estava prestes a apoiar o candidato do PT. "A necessidade política se desdobra em três direções. Primeiro, sei como recebi a cidade de São Paulo quando assumi a prefeitura e dos riscos que o PT representa. Segundo, muitas forças que viriam tradicionalmente com o PSDB não viriam [sem a minha candidatura]. Terceiro, muita gente querendo que eu fosse candidato, e isso pesa", comentou.

Serra negou que tenha trabalhado para adiar às prévias para 25 de março - a data inicial era o dia 4. "Não pedi nem que fosse dia 25, nem que fosse dia 4, nem dia 11", disse.

A mudança desagradou os outros dois pré-candidatos, o deputado federal Ricardo Tripoli e o secretário estadual de Energia, José Aníbal, que divulgaram carta explicitando a divisão no partido causada pelo adiamento, mas disseram que concordavam, desde que houvesse mais dois debates. "Não vejo racha, sinceramente. É uma disputa normal. Racha seria se você quisesse acabar com prévia", desconversou Serra.