Título: Para Marina Silva, soja e pecuária podem ampliar área sem novos desmatamentos
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2006, Agronegócios, p. B12

"Meta é acabar com o desmatamento ilegal, mas não há mágica", diz ministra O Brasil pode dobrar a capacidade de produzir grãos e criar bovinos sem desmatar novas áreas, se o Ministério da Agricultura cumprir a incumbência que lhe foi dada em março de 2004 de apresentar um plano de desenvolvimento sustentável para o setor.

Foi basicamente esta a cobrança feita ontem, diplomaticamente, pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em entrevista na Organização Mundial do Comércio (OMC), quando indagada sobre relatório divulgado esta semana pelas Nações Unidas alertando para "a taxa alarmante" de conversão de floresta em área agrícola globalmente, o que inclui o Brasil.

As denúncias na área internacional são freqüentes, sobre o avanço da soja e da pecuária em áreas de florestas. Na Irlanda, onde a carne bovina brasileira incomoda pecuaristas locais, o produto é alvo de campanhas contrárias justamente com base nesse tipo de denúncia.

Segundo a ministra, em 2005 foram desmatados ilegalmente 18 mil quilômetros quadrados de florestas no Brasil. Ocorre que o país tem 160 mil quilômetros quadrados de área que já foram desmatadas e estão abandonadas, ou quase, na Amazônia.

Para ela, se o país utilizar essa área de forma semi-intensiva, como sugerem estudos da Embrapa, poderá expandir a agricultura e a pecuária sem desmatar a floresta.

A ministra não quis falar da expectativa em relação ao posicionamento do novo ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes, acerca de questões ambientais. Ela preferiu destacar que o Ministério do Meio Ambiente, Polícia Federal e Ministério da Defesa fazem seu trabalho de fiscalização e de combate a crimes ambientais. "A meta é acabar com o desmatamento ilegal, mas não há mágica", disse.

Marina Silva quer convencer também os proprietários a não derrubar os 80% de área de mata da propriedade a que têm direito, já que 20% são reserva legal. Ela sugere que, em vez disso, o produtor recorra a outras alternativas, como o manejo sustentável.

Para isso, espera que ainda este ano o Ministério da Fazenda dê o sinal verde para um projeto de isenção fiscal para quem investir em projetos ambientais.