Título: Vendas da indústria crescem forte em maio e CNI aposta em alta no trimestre
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2006, Brasil, p. A2

Os economistas da Confederação Nacional da Indústria (CNI) projetam uma trajetória crescente para a atividade do setor no terceiro trimestre. A queda dos juros, os gastos com as campanhas eleitorais e a massa salarial devem impulsionar a atividade do setor também no período junho-setembro. "É um movimento gradual, mas consistente", justificou Flávio Castelo Branco, em referência ao ritmo da indústria que, na avaliação da CNI, fechou o segundo trimestre acima do início do ano.

Os fatores que condicionaram a ligeira aceleração industrial em maio continuam, na análise da CNI. São eles o crescimento da massa salarial - impulsionado pelo aumento do salário mínimo -, a trajetória de redução dos juros e a ampliação do crédito. "Na média, a atividade industrial do segundo trimestre será ligeiramente maior que a do primeiro", avalia Castelo Branco. Outros analistas discordam.

As horas trabalhadas na produção indicam como está a atividade industrial. E a CNI classificou o ritmo deste indicador em maio como "impressionante". O aumento foi de 1,19% sobre abril e de 2,62% sobre maio de 2005. Em abril, porém, o indicador havia caído 2,2% sobre abril de 2005. No acumulado de janeiro a maio, a alta foi de 1,45%.

O economista Paulo Mol disse que o que se espera na retomada do crescimento é o aumento das horas trabalhadas. Com mais confiança dos empresários, há mais contratações de trabalhadores em um momento posterior. "Isso já está ocorrendo. É o melhor sinal de confiança no crescimento em 2006. Não é uma bolha", afirmou.

Para a CNI, os estoques da indústria estão próximos do desejado e, portanto, a tendência é a de aumento da produção. Todos os indicadores industriais mostram crescimento em maio. E a maior razão para essa elevação é, segundo a CNI, a demanda doméstica. Isso porque os juros estão caindo e a renda das famílias está subindo.

As vendas da indústria ainda oscilam mas, para a CNI, a tendência é de aumento. Em maio, elas foram 0,73% maiores que as de abril - que haviam caído 1,2% sobre março - e 4,55% mais altas que as de maio de 2005. No período janeiro-maio, a elevação das vendas foi de 1,59% sobre 2005. Segundo a CNI, a perspectiva positiva para as vendas é baseada no aumento da massa salarial em função da queda da inflação, de reajustes salariais maiores e do aumento do emprego.

O crescimento da renda das famílias está, segundo a CNI, ancorada no aumento do salário mínimo e nos maiores gastos do governo com benefícios sociais. A trajetória de queda dos juros amplia os prazos dos financiamentos e reduz o valor das prestações. Em maio, o real desvalorizou-se 2,3%, o que melhorou o faturamento das exportações e, consequentemente, as vendas da indústria.

O número de dias úteis de junho foi menor em função dos jogos do Brasil na Copa, mas Castelo Branco espera pequeno impacto nas vendas, sem mudar a trajetória de elevação. O economista da CNI disse que esse "efeito calendário" também prejudicou o indicador das vendas industriais em abril.

Quanto ao indicador de pessoal empregado em maio, a CNI verificou aumentos de 0,46% sobre abril e 1,14% sobre maio do ano passado. No resultado entre janeiro e maio, a alta é de 0,86%.

Mol disse que o emprego em 2005 foi "morno" mas, neste ano, vai bem. O que surpreende os economistas da CNI é a resposta rápida do emprego em 2006, um indicador que costuma ter reação lenta. Segundo Castelo Branco, a maturação do investimento em 2006 refletiu-se em mais empregos.

O uso da capacidade instalada da indústria já mostra sinais de alta acima do patamar de 81%. Mas a CNI vê espaço para o aumento da produção sem gargalos. "Os sinais, por enquanto, são positivos e a situação é confortável", diz Mol.