Título: FMI defende que BC atue no câmbio
Autor: Pacheco, Filipe
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2012, Finanças, p. C1

É legítimo que os bancos centrais de países emergentes utilizem diferentes ferramentas para conter flutuações excessivas de suas moedas, em paralelo à manutenção da política de meta de inflação, defendem pesquisadores do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Para Jonathan Ostry, vice-diretor do departamento de pesquisas que assinou um relatório com Atish Ghosh e Marcos Chamon, não é preciso estabelecer uma taxa fixa como meta para as divisas emergentes, mas os BCs devem atuar sempre que distorções bruscas forem reconhecidas. Com o título "Dois alvos, dois instrumentos: política monetária e de taxa de câmbio em mercados emergentes", a análise considera 14 países, entre eles, Brasil, Coreia do Sul, Turquia, Polônia e Tailândia.

"Se um aumento repentino do fluxo de capitais levar a uma apreciação forte e temporária das moedas, acima de seu valor de médio prazo, e, como consequência, houver um deslocamento macroeconômico, intervenções no mercado de câmbio passam então a ser positivas", considera a análise dos pesquisadores. "A crise nos ensinou que as autoridades têm de entregar mais que preços estáveis se quiserem atingir crescimento sustentável, e que os instrumentos à disposição vão além da política de juro básico."

A posição do departamento de pesquisa do FMI vai em linha com a comunicação recente do BC brasileiro. Ao longo do mês de fevereiro, foram 12 atuações diferentes da autoridade na tentativa de conter a valorização do real. No último domingo, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que a entidade continuará atuando no mercado à vista e futuro, e que dará seguimento à política de acúmulo de reservas.

Sobre as ações do BC brasileiro, Ostry não considera que tenham falhado na tarefa de conter a alta do real - o dólar já cai 7,97% no ano. "Não é possível concluir que intervenções como a do BC brasileiro e de outros seja malsucedida, há sempre a questão de que poderia ser pior caso não tivesse acontecido, disse em teleconferência com jornalistas. O forte fluxo de capitais em curto período de tempo justificaria a intervenções, diz o especialista do fundo.

Paralelamente, é preciso estabelecer uma clara comunicação com o mercado na hora de utilizar tais instrumentos. "É muito importante que as palavras sejam consistentes com as ações. Se há um regime de meta de inflação, você não quer que nada te tire do caminho da meta. Portanto, é importante que o BC deixe claro que possui dois instrumentos: um que permite conter a inflação [a taxa básica de juros] e outro que permite controlar flutuações cambiais."

Muitos dos emergentes que hoje têm consistência para atuar no mercado costumavam intervir de modo artificial no passado, com o intuito de favorecer suas economias de forma forçada, o que não acontece atualmente, diz o documento. A defesa das atuações reforça um reposicionamento por parte do FMI após a crise de 2008, quando passou a apoiar de forma moderada medidas para conter entrada de fluxos em emergentes.