Título: País quer limitar concessões em bens industriais na OMC
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2006, Brasil, p. A7

O Brasil afina sua posição para as barganhas envolvendo o acordo de liberalização na Organização Mundial do Comércio (OMC) com o objetivo de evitar custo excessivo para o setor industrial. A delegação brasileira passou a dar ênfase, junto aos principais parceiros, em juntar abertura nas áreas industrial e de serviços (financeiro, telecomunicações, informática etc.) em troca de concessão agrícola, como forma de melhor "calibrar" as barganhas.

Isso porque a declaração ministerial de Hong Kong só fala, no parágrafo 24, em assegurar nível elevado de ambição no acesso a mercado para agricultura e Nama (industrial), levando em conta proporcionalidade e tratamento especial e diferenciado para nações em desenvolvimento.

"Mas não se pode colocar todo o peso na área industrial", diz o embaixador brasileiro junto à OMC, Clodoaldo Hugueney. A avaliação de ganhos e perdas da rodada não deve levar em conta apenas o triângulo - concessões dos EUA em subsídios agrícolas domésticos, da UE em tarifas agrícolas, e do Brasil e India na área industrial - , mas o conjunto da rodada.

O país teme que , se a barganha apenas envolver esse triângulo no atual contexto, depois os países ricos vão embolsar, de graça, abertura para seus fornecedores de serviços. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, destacou a posição em reunião, no sábado passado, entre 15 ministros sobre a negociação de serviços. A UE apreciou a ideia, mas aparentemente não outros países ricos.

A indústria de serviços tem pressionado os países para não ser ignorada na barganha. Ontem, a Coalizão de Serviços Industriais, dos Estados Unidos, divulgou estudo estimando que a liberalização no setor geraria ganho de US$ 1,7 trilhão, mais que o dobro do potencial de ganho para a liberalização industrial, e 31 vezes da abertura agrícola.

O estudo aponta sobretudo supostos ganhos com abertura nos serviços no Brasil para os fornecedores estrangeiros. Para a entidade americana, a facilitação de comércio pode dar enorme ganho para os empresários brasileiros. Argumenta que os procedimentos aduaneiros representam 10% dos custos operacionais das companhias brasileiras. Calcula que a remoção das barreiras reduziria os custos em US$ 5 bilhões e aumentaria as exportações em 25%.

O estudo critica a demora dos procedimentos aduaneiros - em torno de 14 dias. Se uma companhia importa produtos no valor de US$ 1 milhão por mês, cada dia poupado na alfândega reduziria o custo em US$ 64,6 mil por ano.

Em Genebra, os preparativos são agora para o encontro de chefes de Estado na cúpula do G-8, semana que vem em São Petersburgo (Rússia). Esboço do comunicado do grupo insiste na necessidade de concluir a rodada em dezembro, mas a flexibilidade mesmo, está longe de aparecer.