Título: China substitui Brasil no mercado argentino
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2006, Brasil, p. A7

Mesmo depois de cruzar meio planeta e pagar tarifa de importação, bicicletas e panelas chinesas chegam à Argentina mais baratas que as produzidas no Brasil, país vizinho e sócio do Mercosul. Atentos aos preços, os consumidores argentinos estão substituindo uma série de produtos brasileiros por chineses.

Em alguns casos, o Brasil passou de fornecedor exclusivo a coadjuvante. Levantamento da consultoria Abeceb.com, sediada em Buenos Aires, demonstra que a China respondeu, no primeiro quadrimestre de 2006, por mais da metade das importações de utensílios domésticos, bicicletas, ferramentas e manganês.

No período de janeiro a abril de 2002, o Brasil fornecia 77% dos utensílios domésticos que a Argentina importava. Esse percentual despencou para 19% no primeiro quadrimestre de 2006. Na mesma comparação, a participação da China nas importações argentinas de utensílios domésticos saltou de 17% para 79%. Os chineses também ganharam espaço no mercado argentino de bicicletas importadas: de 5,9% de janeiro a abril 2002 para 52,1% de janeiro a abril de 2006.

No setor de manganês e suas manufaturas, como telhas ou arames, o Brasil foi literalmente tirado do mercado pelos chineses. No primeiro quadrimestre de 2002, o Brasil fornecia 100% do que os argentinos compravam. Após quatro anos, a China respondeu por 97% do que a Argentina importou de manganês e suas manufaturas.

"É o reflexo regional de uma tendência mundial", diz Maurício Claveri, economista da Abeceb.com. Ele explica que as indústrias chinesas são eficientes e o custo da mão-de-obra no país é barato. Nos últimos quinze anos, a economia do gigante asiático cresceu 11,5% em média por ano. A participação da China nas exportações mundiais saltou de 2% em 1991 para 6,5% em 2004.

As importações argentinas de produtos chineses, que eram de US$ 416 milhões em 2003, devem atingir US$ 3,2 bilhões esse ano. A maior parte desse montante corresponde a produtos manufaturados. O valor ainda é bem inferior aos US$ 11,9 bilhões estimados para a importação de produtos brasileiros em 2006, mas a tendência é a concorrência aumentar. "Os produtos brasileiros e chineses são muito similares e competem diretamente na Argentina", diz Claveri.

Os dados demonstram que a China está ganhando o espaço do Brasil no mercado argentino. No primeiro quadrimestre de 2006, o Brasil vendeu US$ 2,14 bilhões para a Argentina, alta de 206% em relação a 2002. Já a China vendeu US$ 940 milhões para a Argentina entre janeiro e abril desse ano. Apesar de inferior ao montante exportado pelo Brasil, esse valor significa um aumento de 1.400% em relação aos apenas US$ 63 milhões embarcados pelos chineses no primeiro quadrimestre de 2002. Nesse ano em relação a 2005, a Abeceb.com estima que a Argentina importe 14% a mais de produtos brasileiros e 54% a mais de produtos chineses.

O estudo da Abeceb.com destacou os produtos nos quais o Brasil mais perdeu espaço para a China no mercado argentino. Em produtos que são alvos de disputas entre brasileiros e argentinos - televisões, geladeira, têxtil, calçados, etc - também está ocorrendo substituição de produtos brasileiros por chineses, mas a participação da China no total das importações ainda não é significativa. No setor têxtil, por exemplo, a China representa menos de 10% das importações.