Título: Relatório em tempo recorde da CPI das Sanguessugas deve ser votado em agosto
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2006, Política, p. A8

O presidente da CPI Mista das Sanguessugas, Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), pretende colocar em votação o relatório final da comissão entre os dias 1º e 3 de agosto, quando ocorrerá um dos períodos de esforço concentrado do Congresso Nacional durante a campanha eleitoral. A idéia do deputado é aproveitar a rara presença em massa dos parlamentares em Brasília para conseguir votar o documento final e suas emendas. A expectativa é de enviar o nome de pelo menos 57 colegas para o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar.

"Já há indícios suficientes sobre esses 57 parlamentares para enviá-los ao Conselho de Ética", afirmou Biscaia. Ele faz referência aos 15 deputados contra os quais já corre inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), além dos 42 considerados pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, como os próximos a terem o pedido de inquérito aberto. Contra esses, já haveria indícios suficientes do envolvimento com a máfia que superfaturava ambulâncias. "Vamos aproveitar o esforço dos dias 1, 2 e 3 de agosto para aprovar o texto. Seria muito bom o Congresso votar um relatório dessa importância nesse período", afirmou Biscaia.

O trabalho da CPI foi facilitado pelo excesso de documentos já elaborados pela Polícia Federal, pelo STF, pelo Ministério Público e pela Controladoria-Geral da União. Biscaia enviaria ainda ontem ofícios para os 15 deputados contra os quais já corre inquérito no Supremo para enviarem, por escrito, suas explicações à CPI. O presidente da comissão não pretende colher depoimento de nenhum deles ou dos demais 42. "Ouvir 57 parlamentares inviabilizaria a CPI". O deputado e o relator da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), prevêem apenas mais duas semanas de depoimentos, no máximo.

Na próxima segunda-feira, um grupo de sete parlamentares vai a Cuiabá (MT) ouvir Maria da Penha Lino, tida como o braço da organização infiltrada no Ministério da Saúde, e os empresários Luiz Antônio Trevisan Vedoin e Darci José Vedoin, donos da Planam, empresa acusada de liderar o esquema. Além de Biscaia e Lando, irão ao Mato Grosso a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) e o senador Sibá Machado (PT-AC), os deputados Fernando Gabeira (PV-RJ), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Raul Jungmann (PPS-PE), vice-presidente da CPI.

Haverá trabalho da comissão durante o recesso parlamentar, na segunda quinzena de julho. Na sessão administrativa realizada ontem, apenas sete parlamentares apareceram. A quarta-feira era o último dia para o registro de candidaturas junto à Justiça Eleitoral e a maioria dos parlamentares estava nos Estados.

A sessão ficou restrita à votação de poucos requerimento e a reclamações sobre o sigilo dos documentos decretado pelo Supremo. Raul Jungmann trava batalha contra a Corte para quebrar o segredo de Justiça. A CPI deverá marcar encontro com a presidente do STF, Ellen Gracie, para pedir a revogação da medida. "A CPI tem autonomia e independência e não vai ficar cerceada pelo sigilo", disse Lando.

Jungmann, inclusive, lançou uma suspeita sobre o sigilo decretado pelo ministro do STF Gilmar Mendes, relator dos inquéritos contra os 15 deputados que tramitam no tribunal. "Ouvi uma história, que precisa ser apurada, de que esse sigilo teria sido decretado para proteger parentes de ministros ou ex-ministros que estariam envolvidos no esquema", denunciou, sem apresentar qualquer prova. Questionado sobre o assunto, Biscaia afirmou desconhecer qualquer informação nesse sentido. "Pergunte ao vice-presidente", disse.