Título: Tesoureiro afirma que parentes e amigos ajudaram a pagar a multa de R$ 183 mil
Autor: Basile, Juliano e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2006, Política, p. A10

O tesoureiro da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição, José Filippi Júnior, que responde a diversos processos movidos pelo Ministério Público de Diadema, afirmou ontem que contou com a ajuda de amigos e parentes para quitar uma dívida judicial de

R$ 183 mil - fruto de uma ação do MP que acusa o ex-prefeito de propaganda política irregular. Os promotores questionaram como Filippi pagou a dívida, se estava com os bens bloqueados. O novo tesoureiro da campanha de Lula alegou que um tio de sua esposa, chamado Mário Moreira, repassou-lhe, no dia 10 de dezembro de 2003, um cheque de R$ 150 mil. "Ele é comerciante, tem duas fazendas no Mato Grosso e contava com uma poupança de R$ 400 mil", justificou.

No mesmo dia 10 de dezembro, o próprio Filippi contribuiu com outros R$ 15 mil - um cheque e um saque bancários, ambos de contas do Banespa. Mais R$ 10 mil foram depositados na conta judicial, também em 10 de dezembro de 2003, novamente em cheque, pelo deputado estadual Mário Reali (PT-SP). Os demais R$ 8.335,67 foram obtidos com a arrecadação de uma festa (R$ 1.430), que aconteceu no dia 13 de dezembro, e com uma "vaquinha" entre 28 amigos que, mediante contribuições que variavam de R$ 100 a R$ 500, conseguiram juntar R$ 6.900.

As explicações foram dadas, ontem, pelo tesoureiro, em sua primeira entrevista à imprensa, em Brasília, na sede do PT.

A ação original do Ministério Público de Diadema acusava o prefeito licenciado de produzir material publicitário, em 1995 - outdoors, panfletos, banners - com propagandas alusivas à sua gestão: "Diadema, cada vez melhor", enfeitadas com três estrelas. "O MP alega que as três estrelas seriam referentes às três administrações municipais petistas. Não são", jura ele. "Tiramos as estrelas e, mesmo assim, a ação prosseguiu", lamentou. Ele já perdeu em todas as instâncias e aguarda a decisão do recurso no Supremo Tribunal Federal.

Filippi também rebateu as acusações de que a prefeitura de Diadema tenha pago outdoors nos quais a Central Única dos Trabalhadores (CUT) anunciava a festa comemorativa do 1º de Maio, também de 1995. "A CUT foi excluída do inquérito porque provou que os outdoors dos shows foram pagos por eles". O tesoureiro achou estranho que, mesmo pagando a dívida em 2003 -- oito anos depois da abertura do inquérito - o assunto volte à tona justamente agora. "Pouco depois de o PT me anunciar como tesoureiro de campanha, eles (o Ministério Público) me encaminham um ofício pedindo para esclarecer a origem dos recursos utilizados para saldar minha dívida com a justiça".

Essa é a maior delas, mas não é a única contestação do MP à gestão de Filippi na administração municipal de Diadema. Após admitir que os dois lados "jamais tiveram uma relação amistosa", Filippi teve de esclarecer a contratação da consultoria Idort para prestar assessoria tributária ao município e do escritório do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), também para tratar de questões fiscais, sem licitação. "A lei de licitações permite isso, nas duas situações, quando contratamos profissionais especializados", alegou.

A última ação do Ministério Público acusa Filippi de não repassar corretamente as verbas do Fundef, que obriga os governantes a reservarem, dos 25% destinados à educação, 15% ao ensino fundamental e 10% para a educação infantil. "A nossa marca na prefeitura foi investir nas crianças, sobretudo em creches. Tínhamos uma liminar que nos permitia investir apenas em educação infantil. Ela foi derrubada, mas mantivemos nossas prioridades", admitiu. O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), afirmou que Filippi tem total confiança do partido e do candidato Luiz Inácio Lula da Silva.