Título: PFL e PSDB decidem apoiar emenda contra a reeleição
Autor: Basile, Juliano e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2006, Política, p. A10

PSDB e PFL decidiram ontem, em reunião do conselho político da campanha do tucano Geraldo Alckmin, votar na próxima semana favoravelmente a uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que acaba com a reeleição para cargos executivos. Trata-se apenas de um gesto político para tentar eliminar eventuais restrições do governador mineiro Aécio Neves (PSDB) e do ex-prefeito José Serra (PSDB) à candidatura presidencial da coligação.

O receio dos integrantes do conselho político é que Aécio e Serra, cotados para concorrer ao Palácio do Planalto em 2010, se afastem da campanha nacional por causa das declarações que o candidato tem feito sobre o assunto, em apoio à reeleição.

Outra decisão tomada ontem pelo conselho surpreendeu: a coligação PFL-PSDB se chamará "Por um Brasil decente", mesmo slogan da campanha de 2002 do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo tucanos, a intenção não foi repetir o slogan petista. "Ninguém lembrou isso", afirmou o coordenador da campanha, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE). Ao constatar o fato, ele não demonstrou preocupação. "Lula não honrou o slogan. Alckmin vai honrar", disse.

Quanto ao tema reeleição, a preocupação com eventuais prejuízos à campanha nacional foi levantada na reunião do conselho pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).

A solução para tentar evitar esse desgaste partiu do presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE): votar na próxima quarta-feira, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, a favor de uma PEC do senador Sibá Machado (PT-AC), apresentada em 2003, que acaba com a reeleição. O próprio Tasso é o relator.

Geraldo Alckmin, que participou da reunião do conselho político, afirmou que é pessoalmente favorável ao princípio da reeleição, mas acha que, "do jeito que está, sem regras claras para evitar uso da máquina", é melhor evitá-la.

"Eu fui favorável à reeleição e não vou mudar de acordo com as circunstâncias. Só acho que ela precisa ser regulamentada. Precisa de regras mais claras. Dentro do PSDB tem gente a favor e contra. O presidente não vota nem veta. Não é uma questão programática. E, se quiserem derrubar a reeleição este ano, não é problema", disse.

Depois de declarar que tem o "pé no chão" e que fará uma "campanha humilde", Alckmin anunciou o limite máximo de gastos de sua campanha: R$ 85 milhões, apenas R$ 4 milhões a menos que o teto declarado pelo PT para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Isso é previsão para duas eleições: primeiro e segundo turnos. Esse é o teto. Não quer dizer nem que vai gastar nem arrecadar isso. Vamos gastar menos, mas convém ter cuidado", disse. O comitê financeiro da campanha terá três integrantes: o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior, Paulo Bressan, ex-subprefeito na gestão de Serra, e o ex-deputado federal José Aníbal (SP), ex-presidente do PSDB.

Alckmin dará início hoje à sua campanha em Florianópolis (SC), em evento de lançamento da campanha do governador Luiz Henrique (PMDB) à reeleição. O governador, que decidiu renunciar ao cargo, apóia Alckmin e sua coligação tem o PSDB, o PFL e o PPS, que também decidiu apoiar a candidatura tucana à Presidência da República mesmo sem aliança formal.

Ontem foi a primeira participação do presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), na reunião do conselho, integrado por presidentes e líderes do PSDB e do PFL e dos coordenadores da campanha. Foi discutida a situação dos palanques estaduais.

Um dos casos tratados foi o do Maranhão, onde o PSDB negou-se a apoiar a senadora Roseana Sarney (PFL) para o governo e lançou a candidatura do deputado estadual Aderson Lago à disputa. Os tucanos querem garantir que o palanque do PFL no Estado seja de Alckmin. O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), comprometeu-se a cobrar uma posição da senadora. Lembrou que o estatuto do PFL não permite que seus filiados adotem posições dissidentes da orientação partidária.