Título: Mobilização de Dilma preocupa oposição e Aécio prepara caravana de viagens
Autor: Moura,Marcos
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2012, Política, p. A14

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse nesta quinta-feira que vai dar início a viagens pelo Brasil para discutir problemas do país. A declaração foi feita dois dias depois de José Serra se lançar candidato à Prefeitura de São Paulo, o que, em tese, deixa o caminho livre no partido para Aécio disputar as eleições presidenciais em 2014.

Aécio, que já é o principal nome entre os tucanos para suceder a presidente Dilma Rousseff, vem desde o segundo semestre do ano passado cumprindo uma agenda política fora de Minas e Brasília. Esteve em cidades no Paraná, Bahia e Ceará e Goiás em eventos do PSDB e com partidos aliados.

Em entrevista à rádio Itatiaia, o senador disse já ter viagens marcadas a partir do fim deste mês. Antes, porém, disse ele, vai a Washington na semana do dia 12 para "concluir uma negociação com o BID sobre recursos para a área de segurança pública em Minas Gerais. "Após essa missão que me foi delegada pelo governador, nós vamos iniciar uma série de viagens de discussões profundas sobre os problemas do Brasil em todas as regiões."

A agenda nacional do senador poderá incluir seminários do partido ainda este semestre. Ele tem defendido a necessidade de o PSDB realizar dois desses encontros até agosto. O primeiro ocorreu no Rio, no fim do ano passado. Aécio tem dito que antes de o partido definir o nome para 2014, é preciso que se revigore e que se mobilize.

Na mesma entrevista, ele falou da decisão de Serra em São Paulo, classificando-a como um gesto de "desprendimento" e de "grandeza política", que atendeu às expectativas do PSDB. "A eleição de São Paulo é uma eleição de repercussão nacional, obviamente ali também serão debatidos temas de interesse nacional. E como o próprio Serra tem dito, ali estarão em confronto dois modelos, duas visões distintas de país."

Aécio coloca-se como puxador de votos em disputas municipais do PSDB: "Estarei à disposição dos meus companheiros em Minas, em primeiro lugar, mas também nas outras capitais e outras principais cidades do país para que nós possamos, vencendo as eleições, construir um projeto alternativo de poder a esse que aí está".

O movimento da oposição se deu antes até do lançamento oficial da candidatura do ex-governador José Serra a prefeito da capital paulista. A cúpula do PSDB percebeu que a eleição municipal de São Paulo obteria contornos nacionais quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu emplacar a candidatura do ex-ministro da Educação Fernando Haddad, enterrando as pretensões eleitorais de líderes do partido com mais expressão na cidade. Em resposta, o partido decidiu usar os 44 milhões de votos conquistados por Serra no último pleito presidencial como um dos trunfos na campanha municipal.

Além de Aécio, o PSDB vai lançar mão da participação de seus principais líderes nacionais nas campanhas de cidades estratégicas, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No Rio, por exemplo, o PSDB decidiu na quarta-feira lançar a candidatura do deputado Otávio Leite. O parlamentar já mantém conversas com Aécio para garantir a presença de líderes nacionais do partido em seu palanque.

"A orientação dos tucanos nacionalmente é que contribuam com o Rio de Janeiro", comentou Leite. "Isso [nacionalização das campanhas municipais] contamina também o Rio de Janeiro. Não vamos deixar barato, porque o vice do [prefeito] Eduardo Paes será do PT. Vamos mostrar que tudo isso tem a ver com as perspectivas de 2014."

Em outro front, o PSDB vai usar seus oito governadores para lançar candidatos fortes nas capitais de Alagoas, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraná, Roraima, São Paulo e Tocantins. O partido busca também ampliar seu leque de alianças com possíveis defecções dos partidos que integram a base do governo Dilma Rousseff, como alas do PDT e do PSB de São Paulo.

Duas semanas antes do Carnaval, os presidentes de PSDB e DEM, respectivamente o deputado federal Sérgio Guerra (PE) e o senador José Agripino Maia (RN), encontraram-se para debater o fortalecimento dos dois partidos em locais estratégicas, como Salvador. Para Agripino, apenas em cidades muito grandes como São Paulo a presidente Dilma Rousseff deve ter munição para nacionalizar o debate, uma vez que nos municípios de menor porte as discussões são locais.

"Atuar é um direito dela. Vamos entender que o processo está nacionalizado e vamos atuar também", ponderou o presidente do DEM. "São poucos os municípios com capacidade de nacionalizar a campanha. Isso é mais em São Paulo."