Título: Alianças em SP afetam negociação de ministérios
Autor: Exman ,Fernando
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2012, Política, p. A15

A disputa pela Prefeitura de São Paulo e as articulações relativas à candidatura do ex-ministro da Educação Fernando Haddad tornaram-se as engrenagens centrais dos novos ajustes da presidente Dilma Rousseff no primeiro escalão do governo federal.

Depois de integrar o PRB ao Executivo, Dilma sinaliza a possibilidade de tirar o comando do Ministério do Trabalho do PDT e fortalecer os laços do governo com PSC e PTB. O movimento pode levar o deputado Hugo Leal (PSC-RJ) ao Ministério do Trabalho. Em São Paulo, entretanto, até agora o PSC está próximo ao deputado Gabriel Chalita (PMDB), candidato patrocinado pelo vice-presidente Michel Temer.

Ontem, Dilma foi visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, encontro que não estava previsto na agenda da presidente e foi mantido sob sigilo pelo Palácio do Planalto durante grande parte do dia. A presidente está insatisfeita com a infidelidade de seu ex-partido, o PDT, em votações de interesse do Executivo no Congresso, como a que criou a Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público (Funpresp). Além disso, o PDT paulista tem sinalizado que poderá lançar candidatura própria ou até mesmo aliar-se ao PSDB nas próximas eleições. O PDT tem uma bancada de 26 deputados, enquanto um bloco formado por PTB e PSC poderia garantir 38 votos ao governo.

"Temos um pacto de os dois partidos caminharem juntos", explicou o líder do PTB na Câmara, deputado Jovair Arantes (GO). "Temos esse compromisso de votar juntos."

Já o PR, que tenta retomar o controle do Ministério dos Transportes, ameaçou lançar o deputado Tiririca como candidato próprio e disse não ter problemas em reforçar o palanque de Serra em São Paulo. O partido resiste à ideia de assumir o Ministério da Agricultura e ceder o Ministério dos Transportes ao PMDB. Ontem, o líder do partido na Câmara, Lincoln Portela (MG), reuniu-se com a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) para cobrar a liberação das emendas ao Orçamento apresentadas pelos parlamentares da sigla.

Inicialmente, Dilma havia assegurado que evitaria participar da campanha eleitoral nas praças em que os partidos de sua base de sustentação no Congresso estivessem divididos. Nos últimos dias, abriu a primeira grande exceção. Disse em conversas reservadas que poderia entrar na eleição paulistana, dependendo de quem fosse candidato. O interlocutor da presidente não teve dúvidas: Dilma se referia ao ex-governador José Serra (PSDB), que acabara de anunciar sua pré-candidatura a prefeito de São Paulo e foi seu adversário na última disputa presidencial.

O lance seguinte da presidente foi demitir o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) do Ministério da Pesca e Aquicultura para aproximar o PRB e os evangélicos da candidatura do ex-ministro da Educação Fernando, nomeando para o cargo o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ). Além de impulsionar as negociações entre o PT e o PRB de São Paulo, a nomeação de Crivella, que é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, pode reduzir as críticas do eleitorado evangélico a Haddad. Essa parcela da população condenou fortemente a elaboração, pela gestão de Haddad na Pasta, de um material contra a homofobia, o qual foi apelidado de "kit gay".

"São Paulo é o centro nervoso do país e onde a oposição está encastelada", afirmou o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), para quem a capital paulista abriga a elite mais retrógrada do Brasil.

Para o petista, o ideal seria que todos os partidos que integram a coalizão governista estivessem unidos já no primeiro turno em torno da chapa a ser liderada por Haddad. O PMDB, sugere, indicaria o vice da coligação.

No entanto, os pemedebistas não só descartam a ideia, ao reafirmar a candidatura do deputado Gabriel Chalita, como já começam a se incomodar com os movimentos de Dilma e seus articuladores políticos. Avaliam que nacionalizar a campanha de São Paulo só interessa a José Serra, que já declarou ter um desejo "adormecido" de voltar a concorrer à Presidência da República.

Além disso, o PMDB negociava uma composição com o PRB. Queria que o partido de Crivella indicasse o também pré-candidato Celso Russomanno, primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, para vice de Chalita. Mas o partido foi surpreendido pela nomeação do senador. A presidente Dilma Rousseff sequer avisou o vice-presidente Michel Temer da mudança que faria na Esplanada dos Ministérios.