Título: Foco de Newcastle confirmado no RS
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2006, Agronegócios, p. B11

Segundo Signor, caso foi comunicado há mais de dois meses, em 4 de maio O Brasil ainda não se recuperou dos reflexos negativos gerados pela gripe aviária na Europa e na Ásia nas exportações de carne de frango e já se depara com o risco de novos problemas após a confirmação de um foco da doença de Newcastle no Rio Grande do Sul. O caso foi comunicado à Secretaria da Agricultura do Estado e à Superintendência Federal da Agricultura no dia 4 de maio por um pequeno produtor do município de Vale Real. Mas, segundo o superintendente Francisco Signor, a ocorrência do vírus foi confirmada só na última terça-feira pelo Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro), sediado em Campinas (SP).

O coordenador do programa nacional de sanidade avícola do Ministério da Agricultura, Marcelo Mota, admitiu que, em um "primeiro momento", alguns importadores poderão impor restrições à carne de frango proveniente da localidade, do Estado ou do país. Mas isso até que os informes do governo brasileiro comprovem que não há casos da doença fora da zona de risco, em um raio de dez quilômetros em torno da propriedade atingida. Mota espera concluir a coleta de amostras no perímetro para análises laboratoriais até sábado; se não forem localizadas mais aves doentes, o foco poderá ser considerado extinto em 30 dias.

A primeira reação foi doméstica. A Secretaria da Agricultura de Santa Catarina proibiu ontem (dia 6) o ingresso e a passagem no Estado de aves vivas, ovos, carnes e subprodutos originários do Rio Grande do Sul. A Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) protestou, alegando que nenhum Estado ainda aderiu ao plano nacional de contingência à gripe aviária e à doença de Newcastle, que prevê tais restrições, e, que portanto, a medida é ilegal. O secretário gaúcho da Agricultura, Quintiliano Vieira, ameaçou recorrer à Justiça, mas depois disse que o governo do Estado vizinho concordou em estudar a abertura de um corredor sanitário assim que receber a documentação com as medidas sanitárias adotadas.

A doença de Newcastle é uma infecção altamente contagiosa que ataca os sistemas nervoso e respiratório das aves, causando perda de peso, queda na produção de ovos e morte. Não há riscos para a saúde humana. Suspeitas da ocorrência da enfermidade não são raras, sobretudo nas criações de subsistência em pequenas propriedades, já que os abates nos frigoríficos são monitorados. Para Mota, dentro do possível o Rio Grande do Sul vive situação "confortável" devido à aplicação das medidas sanitárias e porque, passados 60 dias do surgimento do foco, não apareceram novos casos.

Segundo Signor, a pequena propriedade, a 90 quilômetros de Porto Alegre, tinha 44 frangos para consumo doméstico. Os que sobreviveram à enfermidade foram sacrificados no dia 8 de maio. O comunicado encaminhado quarta-feira pelo Ministério da Agricultura à Organização Mundial de Sanidade Animal (OIE) informa, que 16 aves morreram no local e outras 17 apresentavam sintomas da doença, que não era registrada no Rio Grande do Sul há 22 anos e no Brasil desde abril de 2001, quando houve um foco em Goiás.

Logo após a identificação do caso, a propriedade atingida foi interditada e o ministério estabeleceu um raio de proteção de três quilômetros ao redor do foco, onde foi proibido o trânsito de aves e derivados. Nesta área existem cerca 120 pequenas propriedades e um aviário, integrado a um frigorífico, com 8 mil aves, que serão abatidas até a próxima semana na própria zona de risco. O nome do frigorífico foi mantido em sigilo. O município de Vale Real integra a região de Montenegro, onde está a sede da Doux Frangosul.

Na área de vigilância, em um raio de mais sete quilômetros em torno da zona de proteção, há mais 74 aviários em 30 propriedades integradas com 800 mil aves, estima Signor. O ministério não explicou a demora para a confirmação do foco, mas nos bastidores ela foi explicada pela falta de estrutura do laboratório de Campinas, que deveria produzir os resultados em, no máximo, 21 dias. O Valor apurou, ainda, que no início de 2005 uma missão da União Européia apontou falhas nas auditorias do ministério e no treinamento de veterinários para atuar em campo. No passado, importadores europeus levantaram suspeitas de que foram "abafados" focos de Newcastle em Jaraguari (MS), em 2005, em Lagoa do Peixe (RS), em 2003, e em Céu Azul (PR), em 2004. (Colaborou Mauro Zanatta, de Brasília)