Título: AMD e FIC buscam novas alternativas
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2006, Empresas, p. B2

Um depósito em Santa Rita do Sapucaí (MG) guarda cerca de 3 mil computadores fabricados em parceria pela AMD e pela FIC. O material é o que sobrou das 10 mil unidades do Personal Internet Communicator (PIC), iniciativa de inclusão digital que teve início em setembro de 2005.

As dificuldades do PIC estão diretamente relacionadas ao entendimento de sua proposta. A idéia básica é que a máquina seja um aparelho de acesso à internet, e não um computador tradicional. Por isso, o equipamento não tem recursos como gravador de CD, nem permite que seu usuário baixe programas da internet. "É preciso entender a mensagem. Trata-se de um novo conceito", explica Cláudio Ribeiro, diretor comercial e de marketing da FIC.

O novo conceito, até agora, não levantou vôo. Depois de testes feitos no início deste ano em parceria com a Telefônica e o site de comércio eletrônico Submarino, o PIC teve cerca de 7 mil unidades vendidas em cidades de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Desde março, porém, tudo está paralisado.

Segundo Ribeiro, o problema do PIC - que tem valor fixado em R$ 850, incluindo monitor de 15 polegadas da Samsung - não está na configuração de seus recursos, mas nas restrições para liberação de financiamento, o que cresceu devido ao alto grau de informalidade nas classes menos favorecidas. "Tivemos muita intenção de compra, mas o processo era barrado na hora de aprovar o crédito. Tanto que 70% das compras foram feitas com cartão de crédito", diz.

A possibilidade de trabalhar com linhas de financiamento do governo também foi frustrada, uma vez que os benefícios advindos do programa PC para Todos determina uma configuração mínima que não é atendida pelo PIC. Para a AMD, a paralisação da produção não é surpreendente. "Como se trata de um produto novo, não existe regularidade na fabricação", diz Otto Stoeterau, responsável pelo PIC na companhia. "Conforme a aceitação, a produção deixa de ser por lote e passa a ser constante." O PIC, diz o executivo, é "a ponta do iceberg" da estratégia 50 por 15, de conectar 50% da população do planeta até 2015.

Para reativar o projeto no Brasil, as empresas estudam duas novas opções. A primeira delas seria vender o equipamento por meio de grandes redes de varejo, como Casas Bahia, Extra e Magazine Luiza. As negociações estão avançadas e os primeiros acordos são esperados para este mês. "O varejo é o mais experiente em crédito, por isso vamos a ele. Só falta a 'canetada'", diz o executivo.

Ironicamente, outro caminho é esquecer a inclusão digital e reposicionar o equipamento como a alternativa de um segundo computador para a casa do usuário. "Faríamos uma campanha de marketing para focar outra classe social, atingindo crianças e adolescentes. São alternativas que correm em paralelo. Uma coisa não elimina a outra", diz o executivo da FIC.

Uma fonte próxima às empresas diz que as operadoras de telecomunicações fixas também estão sendo sondadas para subsidiar o equipamento, assim como ocorre entre teles móveis e fabricantes de celulares. "É algo que está em discussão, embora seja improvável que ocorra", diz essa fonte.

A expectativa da FIC é de que cerca de 10 mil máquinas sejam produzidas neste semestre. Ribeiro garante que, se a procura crescer, o preço do PIC deve cair. É algo mais a se provar. (AB e JLR)