Título: De moscas a poeira, tudo conta na Intel
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2006, Empresas, p. B2

O que um etnógrafo - um antropólogo que estuda os aspectos culturais de uma sociedade - pode fazer em benefício de uma empresa de chips? Para a Intel, a maior empresa mundial de processadores para PCs, a resposta é clara: muita coisa.

Foi assim que a empresa descobriu que na Índia era preciso oferecer computadores que tivessem filtros capazes de proteger seus componentes internos de moscas e poeira, muito comuns na região. Foi na Índia, também, onde boa parte dos computadores é financiada, que a empresa começou a empregar uma tecnologia que permite ao banco desabilitar a máquina remotamente, até que o consumidor inadimplente restabeleça o pagamento.

No Brasil, onde a Intel montou um centro de pesquisa semelhante ao indiano - há outros dois do mesmo tipo, na China e no Egito -, o etnógrafo contratado também já começou a mostrar serviço. Uma das conclusões é a de que as crianças brasileiras gostam de dividir com os colegas suas descobertas na internet, ao contrário de países como os Estados Unidos, em que a navegação é solitária.

Com base nessa observação, a empresa vai recomendar que o uso do Classmate PC, um computador portátil anteriormente chamado de Eduwise, seja compartilhado por vários alunos nas escolas brasileiras, diz Wanda Linguevis, responsável pelo laboratório brasileiro. Em outros locais, conta Wanda, a opção foi trabalhar com um micro para cada estudante.

O Classmate também nasceu na Índia e ainda está na fase de protótipo. O produto comercial só deve chegar ao mercado entre o fim deste ano e começo de 2007. Mas o centro brasileiro da Intel já trabalha na segunda geração, cuja previsão é ficar pronta no início de 2008.

O preço do Classmate ainda não foi definido, mas a Intel trabalha com a expectativa de algo abaixo de US$ 400. A companhia é a dona do projeto, mas o Classmate não chegará ao mercado com o logotipo da empresa, nem com esse nome. A Intel vai licenciar o projeto para fabricantes de computadores, que vão vender o Classmate com marca própria.

"Já temos algumas empresas interessadas, mas não fechamos nada", diz Wanda. "Gostaríamos que fossem companhias locais, mas não descartamos as múltis." O importante, segundo ela, é garantir que o fabricante conte com o Processo Produtivo Básico (PPB), que ofereça os benefícios capazes de manter o preço competitivo.