Título: Laptop pode consumir US$ 140 milhões
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2006, Empresas, p. B2

Nicholas Negroponte, idealizador do portátil de US$ 100: previsões polêmicas no passado, como o CD comestível "Com todo o devido respeito pela Blockbuster e por sua nova proprietária, a Viacom, eu penso que as videolocadoras sairão de cena em menos de dez anos." A previsão publicada em 1995 pelo então professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT) Nicholas Negroponte, em seu livro "A vida digital", deixa claro que o especialista não leva muito jeito para a futurologia. O que leva a dúvidas sobre a trajetória de seu laptop de U$ 100.

Negroponte discute o projeto com o governo brasileiro desde o início de 2005. Há pouco mais de um ano, teve uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para detalhar a iniciativa. Do acordo firmado com o governo, seguiu-se uma série de visitas ao Brasil, nas quais Negroponte procurou convencer pesquisadores, educadores e curiosos sobre o caráter revolucionário de sua empreitada. O Brasil comprou a idéia, mas até agora nada saiu do papel.

"O projeto vai dar certo", garante Cezar Alvarez, coordenador do programa UCA (Um Computador por Aluno) e assessor especial da presidência da República. No entanto, acrescenta ele, "não vamos conseguir colocar esse computador nas mãos dos alunos nesse próximo ano letivo. Pelo cronograma industrial, os primeiros equipamentos devem ficar prontos só a partir de março do ano que vem", diz.

Até lá, o governo ainda precisa resolver questões básicas como serviços de manutenção aos equipamentos. A viabilidade técnica do aparelho também está em discussão, principalmente no que se refere à tela e à bateria que serão usadas no produto. Nos últimos dias, as entidades contratadas pelo governo para avaliar o projeto - o Laboratório de Sistemas Integráveis da Universidade de São Paulo; o Centro de Pesquisas Renato Archer (CenPRA), de Campinas (SP); e a Fundação Certi, de Florianópolis (SC) - receberam mais de uma dúzia de protótipos para testes.

O equipamento conta com um navegador de internet e um chat educacional conectado à biblioteca Wikipedia, que é feita pelos próprios usuários, via internet. "Na verdade, o que recebemos é uma placa (acessório interno do equipamento), algo que é facilmente desenhado e tem custo baixo. Mas o que ainda precisa ser decidido é essa tecnologia da tela, que consome a maior parte da energia", diz Victor Mammana, pesquisador do CenPRA.

Uma das soluções propostas por Negroponte para resolver a questão da energia é acoplar uma manivela ao computador. Outra opção seria fabricar equipamentos apenas com telas em preto e branco. "Acontece que, para educação, não usar a cor seria um prejuízo muito grande. Essa não é a saída", comenta Mammana.

Um especialista próximo ao projeto diz que, até o momento, as opções de telas pesquisadas não são viáveis, devido ao alto custo. "A Qualcomm, que tem a tecnologia iMod, seria uma boa saída para isso", sugere. Atualmente, são parceiras formais da iniciativa OLPC (One Laptop Per Chield), que gerencia o projeto, as empresas AMD, Brightstar, Google, News Corp., Quanta, Nortel e Red Hat.

Dificuldades à parte, o governo quer pagar pra ver. Um primeiro lote de 10 milhões de equipamentos é aguardado para novembro, para ser distribuído a vários países. Destes, 1 milhão deve ser comprado pelo Ministério da Educação (MEC). Detalhe: tudo será produzido pelos chineses.

Segundo Alvarez, a indústria brasileira poderá se candidatar a produzir o equipamento. No entanto, ele diz, "será difícil para um montador brasileiro competir com a chinesa Quanta, que hoje é uma das maiores fabricantes de computadores do mundo".

Alvarez afirma que o MEC já está trabalhando na reserva de uma verba para o projeto. O orçamento deve girar em torno de US$ 140 milhões, já que os idealizadores da iniciativa prevêem que, em sua etapa inicial, o laptop de US$ 100 custará, na realidade, US$ 140.

Viajando por países como Argentina, China, Nigéria e Tailândia, Negroponte aguarda ansioso o desenrolar da situação. Nada mais difícil para um nome respeitado, mas que um dia já previu que CD-ROMs seriam comestíveis e monitores substituídos por tintas que refletiriam o conteúdo de um PC.