Título: Prévias no PSDB devem se restringir a meia dúzia de cidades
Autor: Lima,Vandson
Fonte: Valor Econômico, 05/03/2012, Política, p. A6

Sem prévias, o PSDB acaba". A frase, dita pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao deputado federal Ricardo Tripoli em agosto de 2011, virou um verdadeiro mantra do parlamentar, que acabara de se colocar como primeiro pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo. Passados sete meses, o processo outrora recebido como um gesto democrático que oxigenaria o partido, contemplaria suas bases e era respaldado por suas lideranças pouco caminhou no tucanato.

Em São Paulo, berço político do partido, em apenas 15 das 645 cidades do Estado - o PSDB governa 203 delas - houve a formalização de pedido de prévias. Na maioria delas há a expectativa de um acordo, o que deve reduzir o número das que efetivamente irão a voto em cinco ou seis, segundo o diretório estadual.

No resto do país, segundo o presidente do partido, deputado federal Sérgio Guerra (PE), os diretórios estaduais de Pernambuco, Ceará e Espírito Santo são os mais adiantados na reorganização de seu cadastro de filiados, mas a possibilidade de realização de prévias já em 2012 ainda é uma incógnita.

Guerra conta que os tucanos querem apagar o histórico de candidaturas definidas pela cúpula partidária. "Nosso objetivo é ter uma campanha mais para frente de "filie-se ao PSDB e escolha o seu candidato a presidente"", diz. "O PSDB quer evoluir. Faz parte do esforço que estamos fazendo para renovar o partido, com a construção de núcleos de juventude e do movimento sindical".

A maior dificuldade consiste em mapear essa potencial militância, em diversos casos afastada há muito do partido. "Estamos começando um trabalho de reestruturação do quadro de filiados que servirá eventualmente para prévias, para desenvolver uma rede social para os filiados e para mobilização dos militantes", explica Guerra. O presidente tucano ressalta, porém, que o recadastramento não significa que ocorrerão prévias nesses Estados mais adiantados no processo. "Dependerá da questão local de cada um. A ideia é que, onde existir mais de um candidato, vamos abrir a consulta aos filiados porque isso ajuda o discurso dos candidatos", diz.

Em São Paulo, os tucanos solicitaram prévias nas cidades de São Bernardo do Campo, Mauá, São João da Boa Vista, Pauliceia, Lençóis Paulista, Nova Campina, Piedade, Campos Novos Paulista, Itararé, Espírito Santo do Pinhal, Itirapina, Itapeva, Embu e Franca, além da capital. Elas devem ocorrer até o dia 31. Para hoje, a executiva estadual colocará em discussão a criação de um dispositivo que autorize prévias fora desse prazo para casos excepcionais. A medida é uma prevenção ante à possibilidade de o PSDB não conseguir o apoio com o PSB na capital. Caso isso ocorra, o partido vai desfazer o acordo já firmado em cidades como Campinas, São José do Rio Preto e São Vicente, nas quais abriria mão de encabeçar a chapa em favor do parceiro.

Em São Bernardo do Campo, quarta maior cidade de São Paulo, com 765 mil habitantes, o diretório municipal do PSDB decidiu realizar prévias, algo inédito na história do partido na cidade, para definir quem será o candidato de oposição ao atual prefeito, o ex-ministro do Trabalho Luiz Marinho (PT), cotado para concorrer ao governo do Estado em 2014. "O prefeito é candidato à reeleição e já está em campanha todos os dias. A oposição não poderia esperar as convenções partidárias em junho", afirma o presidente do diretório municipal, vereador Admir Ferro. A inscrição para a prévia da cidade acaba hoje e, por enquanto, tem dois nomes: o presidente da Câmara Municipal, Hiroyuki Minami, e o próprio Ferro.

Outro possível nome é do líder da bancada do PSDB na Assembleia Legislativa do Estado, o deputado estadual Orlando Morando, que se diz receoso em relação ao uso da prévia. "Independentemente de eu colocar meu nome ou não à disposição, prefiro buscar o consenso", diz. Ao falar ao Valor, Morando aguardava uma conversa com o governador Geraldo Alckmin e vislumbrava a possibilidade de coordenar no futuro a campanha de José Serra à prefeitura da capital paulista. "Vou ouvir o governador e ver que caminho devo tomar para o bem do partido. Como Serra me convidou para coordenar sua campanha, caso ele vença a prévia, isso pesará na decisão".

Nome do PSDB mais bem posto nas pesquisas de intenção de voto em São Bernardo, Morando teme que o estímulo a uma cultura de prévias no partido provoque uma corrida de filiações nos municípios. "Se eu tenho 20 amigos envolvidos com política da minha cidade, posso colocar cinco no PSDB e 15 em partidos aliados. Se a prévia vira obrigação, vou trazê-los todos pro PSDB para votar em mim?", questiona.

Na capital paulista, em que pese a grande operação montada para dar a José Serra o maior número possível de apoios de figurões do partido, os outros dois postulantes - o secretário estadual de Energia José Aníbal e o deputado federal Ricardo Tripoli - se mantém na disputa. "Tive uma reunião com presidentes de dez diretórios zonais e 160 filiados. Acredito que posso vencer a prévia", diz Tripoli. Depois da adesão de 21 dos 22 deputados estaduais tucanos à sua pré-campanha, na semana passada, Serra receberá hoje o apoio da bancada federal do PSDB paulista. Amanhã, fecha acordo com os vereadores do partido na capital.

Tripoli desdenha da costura, que incluirá seus colegas de Câmara. "Voto de deputado na urna vale o mesmo que de qualquer outro militante. Não creio que eles influenciem tão decisivamente a militância", avalia.

Na única vez em que o PSDB decidiu o candidato à Prefeitura de São Paulo por prévias, o escolhido foi o ex-deputado federal Fábio Feldman, hoje sem partido. Ele venceu o ex-deputado constituinte Getúlio Hanashiro por 111 votos a 86 em 1992, mas sequer chegou ao segundo turno. Recebeu 5,81% dos votos na eleição e ficou em quarto lugar. O vencedor foi o deputado federal Paulo Maluf (PP).

Naquela época, nenhuma das principais lideranças do partido, como os então senadores Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas - eleito governador de São Paulo dois anos depois - ou o então deputado federal José Serra quiseram concorrer.

Feldman foi alçado a candidato no dia das prévias, depois de fracassar a tentativa- até isto foi levado à consulta dos filiados - de apoiar o candidato do PMDB, Aloysio Nunes Ferreira. Hoje senador pelo PSDB, Aloysio era, na época, vice do governador Antônio Fleury, um dos responsáveis pelos tucanos terem saído do PMDB para fundar um novo partido. A tese de aliança foi derrotada por 150 votos a 45.