Título: Europa quer pôr foco em retomada do crescimento
Autor: Moreira ,Assis
Fonte: Valor Econômico, 05/03/2012, Internacional, p. A9

Após terem assinado o novo pacto de disciplina fiscal, que a Alemanha exigia em troca de sua solidariedade financeira com os parceiros, os líderes da zona do euro querem agora mudar a estratégia para a retomada do crescimento economico.

É nesse cenário de esperança de "começo de fim da crise" que a presidente Dilma Rousseff terá conversas hoje e amanhã com a premiê alemã Angela Merkel, na cidade de Hannover. Surpreendendo muita gente, Merkel passou os últimos dias elogiando as duas megaoperações do Banco Central Europeu (BCE) de liquidez total de € 1 trilhão, que provavelmente não serão seguidas por uma terceira.

Para Merkel, essas operações foram importantes para acalmar os mercados e permitiram aos governos ganhar tempo de dois a três anos para fazer as reformas.

Para ela, isso passa por três pilares: disciplina fiscal para controlar o endividamento; reforma estrutural para estimular crescimento e competitividade; e reforma institucional para melhorar a capacidade da UE de agir.

Mas as declarações de Merkel também vão de encontro à preocupação de Rousseff, que falou em "tsunami monetário". Merkel admitiu o risco de uma "bolha de liquidez", mas trata de minimizar isso no momento, enfatizando o tempo que será dado para os bancos se recapitalizarem e o provável bloqueio do efeito contágio da crise a países sistemicamente importantes.

Ao contrário do presidente francês Nicolas Sarkozy e do primeiro-ministro italiano Mario Monti, Merkel não assume que a crise da zona do euro chegou ao fim. Ela repete que, se o mercado está mais calmo, nada indica que a turbulência foi superada. A situação economica é frágil e "não saímos do fim do túnel".

Para certos analistas, mesmo que o período de extrema fraqueza da Europa tenha passado, o mundo não parece estar começando uma recuperação rápida e sustentável. Vários fatores podem minar a expansão da atividade. A consolidação fiscal, que continua a ser defendida por Merkel, será um grande freio à demanda neste ano.

As famílias continuam reduzindo seu endividamento, diante do alto desemprego e da fraqueza persistente no mercado imobiliário nos EUA.

Além disso, está ficando cada vez mais claro que a economia mundial está num período de política fiscal de neutra a rígida, com a política monetária frouxa como o óbvio instrumento para estimular a atividade econômica.

"Esse mix de política não é exclusivo dos países desenvolvidos, e política monetária muito frouxa pode levar a consequências não intencionais de maior inflação causada pelos preços dos alimentos e de energia", avalia Piero Ghezzi, do Barclays Capital, em Londres.

Para a zona do euro voltar a crescer, a Alemanha é essencial. A recente melhora na confiança do consumidor alemão é encorajadora, mas analistas duvidam que isso será sustentável, considerando que salários e crescimento do emprego estão em lenta descida. O desemprego aumentou fortemente na periferia europeia, mas começa a crescer também nas economias centrais, como Alemanha e França.

Alem disso, o temor de impacto dos planos de socorro na zona do euro aos parceiros sobre as finanças públicas da Alemanha pode levar as famílias a preferir poupar do que consumir.