Título: Insumos puxam indústria e indicam ritmo mais forte no futuro
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2006, Brasil, p. A3

A indústria brasileira voltou a surpreender ao crescer 1,6% em maio na comparação com abril, descontados os efeitos sazonais. O número é o maior desde dezembro de 2005 e superou as projeções mais otimistas das áreas de análise e pesquisa macroeconômica de bancos, consultorias e instituições do próprio governo, como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que estimavam taxas entre 0,6% e 1%. A surpresa foi o setor de bens intermediários, cuja produção cresceu 1,9%, enquanto a importação de matérias-primas declinou 6,5% por conta da greve dos fiscais da Receita Federal.

Paulo Levy, diretor do Ipea/Rio, reconheceu que houve erro na projeção de 0,6%, por tratar-se de um modelo econométrico que se baseia no comportamento dos indicadores antecedentes. "Não chegamos a prever o comportamento dos setores industriais. Mas reconheço que a surpresa do mês foi o forte desempenho dos bens intermediários, indicando uma retomada da atividade econômica em um ritmo mais rápido nos próximos meses".

Ele citou ainda o desempenho positivo dos bens de capital (1,8% em relação a abril) e dos insumos da construção civil, com alta de 7,5% em relação a maio do ano passado, indicando boa performance do investimento no período.

Os intermediários respondem por 60% da estrutura industrial brasileira, como informou Sílvio Sales, coordenador de indústria do IBGE. Os subsetores da categoria que tiveram maiores aumentos de produção em maio, ante abril, foram petróleo, minério de ferro e alumínio, na indústria extrativa, com aumento de 2,1%. Os bens intermediários para a indústria de alimentos, com açúcar, soja, carne e rações, cresceu 3,6%, enquanto a produção de diesel aumentou 3,5%, e a de autopeças, partes e componentes de veículos, 5,1%.

Para Aurélio Bicalho, do Banco Itaú, a expansão dessa categoria antecipa crescimento futuro de todos os setores industriais nos próximos meses, reforçando o cenário de recuperação econômica até o final do ano. O economista não crê, porém, que os números de maio alterem muitos as projeções que indicam um segundo trimestre com ritmo de crescimento menor do que o primeiro.

Os indicadores antecedentes de junho, divulgados até agora, como produção de veículos (que recuou 5,4% ante maio na série com ajuste sazonal) e dados de energia (pequeno crescimento de 0,9%) indicam uma queda da indústria no mês, da ordem de 0,8%, nas contas de Bicalho. "Se cair 0,8% em junho, a indústria fecha o trimestre com 0,8% ante o primeiro e o PIB do segundo fica em 0,8%, próximo a minha estimativa", informa Bicalho.

Solange Srour, da Mellon Investment, estima queda de 0,5% para a indústria em junho, só com base na queda da produção de veículos. Ela prevê crescimento da indústria de 1,2% no segundo trimestre e 0,9% a 1% para o PIB do período. Os economistas ouvidos pelo Valor não crêem, porém, que uma estabilidade ou um recuo da indústria em junho possa representar uma inversão de tendência ante a forte retomada da atividade em maio. "Isto faz parte das oscilações cíclicas", assinala Bicalho, do Itaú.

Todos os analistas reforçam que o ambiente macroeconômico atual é muito favorável ao crescimento da economia, impulsionado pela demanda interna. Para isto colaboram a expansão do crédito, o aumento real da renda do trabalho, o juro em queda e reajustes salariais reais, com destaque para o salário mínimo. Estes fatores que impulsionam a economia doméstica devem compensar um certo declínio dos setores exportadores, prevê Levy. Até maio, segundo dados do IBGE, pela primeira vez desde 2003 (pelo menos) os setores exportadores cresceram abaixo da média da indústria.

Eduardo Velho, da consultoria Mandarim, destaca três pontos importantes relacionados com a alta da indústria em maio: ela está na linha de crescimento de 4% do PIB previsto pelo Banco Central; o crescimento industrial é consistente com o comportamento do varejo (que está vendendo bem e por isso aumenta as vendas na indústria e gera movimento de reposição de estoques ) e este crescimento não vai inibir nova queda do juro, por conta da redução sistemática da inflação. (Colaborou Ana Paula Grabois, do ValorOnline).