Título: Lessa deixa o partido e deve colaborar com Crivella
Autor: Magalhães, Heloisa
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2006, Política, p. A6
Lessa: "Esse não é o meu PMDB. O meu era o de Ulysses Guimarães. É o de Pedro Simon. Não o de Sarney"
O economista Carlos Lessa deixou o PMDB. Filiado histórico, desde à fundação do partido, ficou desiludido com a decisão do que chama "caciques da capitania hereditária" de desistir da candidatura própria à Presidência da República. "Esse PMDB não é o meu. O meu era o de Ulysses Guimarães, é o de Pedro Simon, o de (Roberto) Requião. Não esse de José Sarney e (Ney) Sussuana".
Lessa, que ocupou a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por dois anos no governo Lula, passou cinco meses trabalhando no programa de governo da fracassada pré-candidatura do ex-governador Anthony Garotinho à Presidência da República.
Irrequieto, mudou de rumo. "O senador (Marcelo) Crivella (PRB) me chamou para conversar. Estou às ordens para ajudar no programa de governo do senador. Gosto do Crivella, acho um candidato sério. Tem boas qualidades e vamos conversar, por que não? Conheço o senador e José Carlos de Assis (candidato a vice) de longa data", afirma.
Mas o que faz o economista de origem na esquerda, desenvolvimentista, se dispor a colaborar com o eventual governo de um bispo da Igreja Universal do Reino de Deus? "Se qualquer outro candidato quiser conversar, não tenho nenhum impedimento. Não conheço a juíza (Denise Frossard/PPS) e gosto muito do Vladimir (Palmeira/PT) como pessoa. O Serginho (Sérgio Cabral/PMDB) conheço desde quando era militante do diretório do PMDB. Temos contato de vez em quando. Mas ele não me chamou para conversar, se chamar dou consulta de graça", diz.
E para quem pensou que o economista e professor tinha aderido ou assumido compromisso político com Anthony Garotinho, que postulava a candidatura à Presidência pelo PMDB, ou quaisquer de seus aliados (no Rio, Cabral), ele responde: "Meu trabalho foi para o PMDB. Fiz o programa do PMDB nacional para a candidatura à Presidência da República".
Lessa passou meses mergulhado no programa que formulou para o PMDB. Com uma equipe de cinco técnicos, durante cinco meses consultou militantes e lideranças regionais. Distribuiu questionários para que todos apresentassem sugestões. Participou de encontros com as bases da legenda em dez Estados. O programa focava principalmente a retomada do crescimento econômico e a inclusão social. Previa drástica redução da taxa de juros no curto prazo, mas atento ao controle da inflação e resgate da dívida interna.
Agora, o programa que pode vir a elaborar para Crivella passa pela sua constatação de que o Rio de Janeiro é um dos Estados melhor posicionado para a retomada do desenvolvimento. "Há várias razões. Uma veio da mão de Deus, que colocou aqui a Baía da Guanabara e a de Sepetiba, que é o maior porto de águas profundas e mais protegido do Atântico Sul. Fica próximo de 70% do PIB nacional, que está num raio de 500 quilômetros. Se o Brasil voltar a crescer, a região que vai crescer é essa", avalia.
Refuta a interpretação de muitos de que o Estado tenha se esvaziado. "Recentemente, não. O Brasil é que está com crescimento medíocre e, evidentemente, quando o país não cresce, todos crescem pouco, mas o Rio é um dos que mais tem crescido. Se bem que é por causa do petróleo. Se tirar o petróleo, o Rio piora muito", ressalva.
Mas diz que a região precisa se preparar. Montar a infra-estrutura adequada. E avisa: um calcanhar de Aquiles é a água. "Os novos investimentos em siderurgia e petroquímica são altamente demandantes de água. O rio Guandu tem água de sobra, mas não está disponibilizada para indústrias. É preciso revitalizar o Paraíba do Sul do ponto de vista estrutural. O novo governo do Rio tem que dar importância a isso".
Outro foco considerado fundamental por Lessa é a educação. "Tenho a idéia de que se as redes públicas de ensino não se preocuparam com a digitalização, vamos ter analfabetos digitais no futuro, uma sociedade segmentada. Uma altíssima prioridade deve ser informatizar a rede de escolas públicas", defende o economista.