Título: Reestruturação da HRT cria desconfiança no mercado
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/03/2012, Empresas, p. B6

Um forte aumento de custos no ano passado levou o grupo HRT a uma readequação de orçamento. Foram demitidas 89 pessoas nas últimas semanas, em um movimento que surpreendeu o mercado e trouxe certa desconfiança quanto à situação da companhia. Mais da metade dos trabalhadores dispensados trabalhava na HRT O&G. Ali foram demitidos cerca de 46 funcionários, incluindo gerentes, geólogos, geofísicos e pilotos, o equivalente a 7% de seu efetivo na região, que era de 600 empregados. No Rio de Janeiro, onde fica a sede da companhia, cerca de 30 dos 350 funcionários foram dispensados.

Nelson Narciso Filho, ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP) que comandava as operações na HRT África na Namíbia, também se desligou da companhia sem renovar o contrato. As mudanças chegaram até a gestão da companhia. Na semana passada, Milton Franke assumiu a presidência da HRT O&G no lugar de Marcio Mello, que continua como diretor presidente e presidente do conselho de administração da holding, a HRT Participações.

Ao Valor, Mello diz que a iniciativa foi dele, já que Milton Franke vinha exercendo as funções de presidente e ele, Mello, queria se recolher mais. O executivo brinca sobre a concentração de cargos que acumulava no ano passado (diretor de relações com investidores e presidente da HRT O&G, presidente da HRT Participações e do conselho de administração). "Eu tinha quatro cargos e não sou Bombril".

O enxugamento no início deste ano, diz Mello, é parte de uma reestruturação para readequar o ritmo de exploração da companhia, tanto no Brasil como na África, e conter a escalada dos custos e despesas. Somente na Amazônia, foram gastos R$ 629 milhões no ano passado apenas com a campanha exploratória (R$ 468 milhões) e sísmica (R$ 161 milhões).

Agora, a companhia adiou os planos para a compra de três helicópteros e aviões para a Air Amazônia, empresa que pertence ao grupo. No balanço divulgado na noite de sexta-feira, a empresa informou gastos de R$ 301 milhões com a compra de aeronaves, helicópteros, sondas, embarcações, veículos e equipamentos pesados, entre outros.

Com a freada no investimentos, os planos da empresa de operar oito sondas na região este ano mudaram, e serão apenas quatro. O novo sócio, a anglo-russa TNK-BP, que comprou 45% da HRT O&G em negócio ainda não aprovado pela ANP, pediu mais tempo e mais pesquisa sísmica para analisar a área.

"Agora podemos respirar", acrescentou. "Acho que a companhia estabilizou. Estamos trabalhando "full time" com os russos, furando três poços no Solimões e outro nos próximos dias", disse Mello.

Segundo o executivo, os investimentos tinham sido apressados para atender os prazos estabelecidos no contrato de concessão. Mas a prorrogação até 2014, concedido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), do segundo período exploratório de nove blocos, reduziu a pressão e a necessidade de mais perfurações no curto prazo. Mello também cita o salto no número de trabalhadores, que pulou de 224 em agosto para 600 trabalhadores em dezembro de 2011, crescimento que, admite, pesou.

"Tivemos que diminuir os custos operacionais no Solimões. Foi uma adequação importante para defender nosso fluxo de caixa. A infraestrutura ali é muito cara e fomos surpreendidos. Montamos a Air Amazônia, que já transportou 20 mil pessoas, e contratamos pilotos necessários para operar oito sondas. Agora [com a redução do programa exploratório] eu deveria deixar todo mundo lá? Era um escopo muito grande para o que era necessário", disse Mello.

Desde o ano passado a HRT O&G está sob enorme pressão dos acionistas. As ações vinham caindo desde agosto em relação ao valor do lançamento, de R$ 1,2 mil em outubro de 2010. Após o resultado ruim de uma perfuração no Solimões, este ano, os preços desabaram.

Para espanto de alguns investidores, os papéis da HRT O&G chegaram a ser negociados a R$ 388 no dia 10 de janeiro, um terço do valor de lançamento. Naquele dia, um comprador que tivesse entrado na empresa no lançado tinha perdido 67,7% do investimento. Agora, quem comprou na baixa não tem do que reclamar. Desde aquele dia de janeiro, o ganho chega a 76,57%. Mello diz que a experiência, e a enxurrada de críticas, foi um aprendizado. "Eu furei só um poço que não deu certo. Eu me recolhi, cansei de apanhar e vou provar que estou certo", diz o fundador da HRT.

Na sexta a HRT reportou prejuízo de R$ 135,7 milhões no quarto trimestre de 2011, 86,5% maior que o mesmo período do ano anterior. No ano passado, o prejuízo acumulado pela HRT foi de R$ 304 milhões, 113,5% superior ao de 2011.