Título: Calderón vence, mas esquerdista vai contestar resultado no México
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Fonte: Valor Econômico, 07/07/2006, Brasil, p. A10

Presidente, por enquanto: vitória de Calderón será questionada na Justiça Por 0,5 ponto percentual, o candidato governista Felipe Calderón venceu as eleições para presidente do México, após uma conturbada recontagem das atas de votação. Mas o quadro político ainda está longe de uma definição. Seu principal adversário, o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, anunciou que questionará o resultado na Justiça eleitoral e convocou para hoje um protesto na capital, a Cidade do México. A indefinição pode ainda durar meses.

"Está claro que houve manipulação na contagem dos votos e nós não vamos ficar de braços cruzados", afirmou Obrador, ex-prefeito da Cidade do México.

O conservador Calderón (do PAN, Partido de Ação Nacional) ganhou a disputa com 35,89% dos votos, contra 35,31% para Obrador (do PRD, Partido da Revolução Democrática). Foi outra reviravolta: Obrador chegou a liderar por dois pontos percentuais a recontagem, após ter perdido na apuração preliminar.

Em tese, a estreita margem de vitória não seria motivo para contestação. A lei mexicana diz que, se um candidato ganhar por diferença de um voto, ele já pode ser declarado presidente da República.

Mas Obrador voltou ontem a fazer acusações de "sérias discrepâncias" na apuração e repetiu seu desejo de recontagem "voto a voto" - e não apenas das atas, como ocorreu. O IFE (Instituto Federal Eleitoral), entretanto, afirma que não existem bases legais para atender o pedido. A recontagem por votos só pode ser realizada quando as atas forem incompreensíveis ou estiverem faltando.

Obrador promete levar a questão ao Tribunal Federal Eleitoral (Trife), a maior instância jurídica eleitoral do país. "Ganhamos e provaremos isso no tribunal."

De acordo com a lei eleitoral mexicana, os partidos têm até quatro dias após a conclusão da contagem oficial dos votos para levantar objeções e fazer reclamações formais. O tribunal terá então até o fim de agosto para validar a eleição ou convocar uma recontagem voto a voto. A decisão do órgão é inapelável.

A lei determina ainda que o nome do futuro presidente seja anunciado até o dia 6 de setembro, para que ele assuma o cargo em 1º de dezembro.

Enquanto a disputa corre, os primeiros movimentos de insatisfação começam a despontar no país. A convocação dos simpatizantes do PRD pode levar até 100 mil pessoas hoje à Praça Zocalo, local do último comício de Obrador na campanha eleitoral.

Embora Obrador tenha sido cauteloso na escolha de suas palavras e dito que "agiria com responsabilidade", analistas temem por uma onda de protestos que poderiam terminar em violência. Um membro do PRD afirmou que o México vive um momento cívico "muito forte", que já estaria mobilizando muitas pessoas. Para ele, Obrador não terá outra opção a não ser liderar o movimento e garantir que a situação permaneça sob controle.

"Se Obrador não assumir a liderança, será o caos", disse Manuel Camacho, estrategista do PRD. "As pessoas estão muito irritadas."

Vitorioso, Calderón ignorou as ameaças do adversário e fez discurso de presidente na sede de seu partido. "A partir de hoje, trabalharemos para trazer uma nova era de paz e reconciliação ao México", disse ele. "Eu governarei não apenas para o meu partido, mas para todos os mexicanos."

"Provaremos que ele não ganhou. Ninguém pode declará-lo presidente sem autoridade moral", retrucou Obrador, que considerou a declaração uma provocação.

A vitória de Calderón provocou nova alta no mercado local. A Bolsa mexicana fechou ontem em alta de 2,73%, a sexta maior do ano, depois de queda anteontem com a perspectiva de que Obrador poderia vencer.