Título: Bancos mantêm os "spreads" elevados
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2006, Finanças, p. C1

O Banco Central fez, pela primeira vez, um estudo mais aprofundado que procura desvendar por que o "spread" bancário não caiu na mesma intensidade da taxa básica de juros, que desde setembro de 2005 sofreu um corte acumulado de 4,5 pontos percentuais. A conclusão é que os bancos expandiram suas carteiras de crédito em nichos com juros mais elevados, sobretudo para pessoas físicas e pequenas empresas, o que eleva a margem bruta média das operações.

Outra descoberta do estudo é que os bancos incluíram alguma gordura nas taxas porque, pelas suas avaliações de solvência dos devedores, parcela significativa dos novos empréstimos foi feita para tomadores com avaliação de risco menos favorável. Por fim, a rigidez dos "spreads" bancários se deve também a uma ligeira deterioração do índice de inadimplência que, embora inofensiva do ponto de vista de solidez do sistema financeiro, representa custos para os bancos.

As linhas gerais do estudo foram incluídas no relatório de inflação de junho, que apresentou os dados sob a forma de gráfico, sem especificar os valores. Por solicitação do Valor, o Departamento Econômico do BC abriu alguns números relevantes que embasaram o estudo.

A resistência dos "spreads" em cair vinha causando surpresa entre os especialistas porque existe uma forte correlação entre esse indicador e a taxa básica. Quando os juros básicos são cortados pelo BC, a taxa cobrada pelos bancos deve cair numa intensidade ainda maior, porque é puxada por duas forças. A primeira é a queda do custo de captação dos bancos. A segunda razão é que os bancos podem queimar parte da gordura incluída nos spreads, criada quando a economia entra em um ciclo econômico menos favorável.

Os bancos repassaram aos clientes a queda no custo de captação, mas não reduziram spreads. Pelos dados do BC, de agosto de 2005 (mês que antecedeu o início do processo de cortes de juros) até maio de 2006 o "spread" a pessoas físicas e empresas permaneceu permaneceu praticamente constante, oscilando de 28,5 para 28,49 pontos percentuais (pp).

Uma das explicações é a mudança na composição das carteiras dos bancos. O estudo do BC mostra que, se ela não tivesse mudado no período, o "spread" total teria sido 0,4 pp menor. Teria chegado a 28,1 pp em maio de 2006, em vez dos 28,5 pp realmente ocorridos.

No relatório de inflação, o BC lembra que está havendo uma forte elevação dos empréstimos a pessoas físicas. Sua participação na carteira de crédito dos bancos, segundo o estudo, subiu o equivalente a a 2,3 pontos percentuais de agosto de 2005 a maio de 2006. E, dentro desse segmento, a linha de crédito que mais cresce é o crédito pessoal, que tem um spread superior à média dos empréstimos em geral às famílias.

Outro segmento que cresce fortemente, diz o BC, são os empréstimos a pequenas e médias empresas, que se têm tornado proporcionalmente mais importantes dentro das carteiras de crédito dos bancos de pessoas jurídicas. "As grandes empresas têm utilizado relativamente mais outras fontes de financiamento, como o mercado doméstico de capitais, por meio do lançamento de ações, debêntures e fundos de direitos creditórios", afirma o relatório de inflação.

Se não tivesse havido essa mudança na composição das carteiras de crédito, o "spreads" dos empréstimos a pessoas jurídicas teria sido de 13,8% em maio passado, ou cerca de 0,3 ponto percentual menor do que o número efetivamente observado.

No estudo, o BC também fez análise das classificações de risco nas carteiras de crédito dos bancos. Foi construído um índice que mostra que, na expansão de crédito ocorrida a partir de agosto de 2005, os bancos passaram a assumir riscos maiores na sua carteira. Há fortes indicações de que, para cobrir esses riscos, os bancos seguraram os "spreads" em níveis mais elevados. Por fim, o estudo assinala que houve uma alta de 1 pp na taxa de inadimplência, entre agosto de 2005 e maio de 2006, chegando a 4,9%. A alta foi mais acentuada entre pessoas físicas (1,3 pp) do que para empresas (0,5 pp).