Título: Integração vai ser concluída este ano
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2006, Finanças, p. C8

O grupo espanhol Santander fará a integração legal dos cinco bancos que possui no Brasil até o final do ano. Prevalecerá no país a marcar Santander Banespa. A providência tem significado jurídico, acarretará alguma economia pela simplificação de procedimentos legais e, principalmente, ajudará na proposta do Santander de partir para o crescimento orgânico no mercado brasileiro.

"Acabamos de fazer a integração tecnológica dos cinco bancos no Brasil. Estamos preparados para capturar as boas oportunidades que o crescimento do mercado está proporcionando", disse José Antonio Álvarez, diretor geral financeiro do Santander.

Álvarez negou o interesse do Santander de fazer aquisições no Brasil e em qualquer outro mercado da América Latina. "Tivemos uma fase de fazer aquisições na América Latina, uma fase de consolidar o controle e uma fase de investimento para capturar o crescimento do mercado. Esse é o estágio atual do negócio: crescer e desenvolver as franquias. Temos massa crítica e agora estamos em uma fase em que temos que aproveitar o crescimento que está ocorrendo", afirmou o executivo.

Álvarez deu entrevista a um grupo de 30 jornalistas da América Latina, ontem, em Boadilla del Monte, a 17 quilômetros a noroeste de Madri, onde o maior banco em capitalização de mercado da zona do euro construiu uma cidade administrativa digna do gosto dos espanhóis por uma arquitetura ousada. Projetado pelo arquiteto Kevin Roche, o centro ocupa 450 mil metros quadrados construídos com muito vidro, concreto e pedras, em uma área total de 160 hectares com extensos jardins, onde existem de oliveiras centenárias a um campo de golfe.

Famoso no mercado brasileiro por ter comprado o Banespa, em 2000, pelo recorde ainda não batido de R$ 7 bilhões, o Santander investiu R$ 2 bilhões na integração tecnológica do próprio Banespa com o Geral do Comércio, Noroeste, Bozzano e Meridional, adquiridos antes. Simultaneamente, introduziu no país a plataforma tecnológica Altair, agora usada em todas as operações da América Latina. O próximo na área é o projeto Alhambra, esperado para 2010, que vai convergir o Altair com a plataforma tecnológica Partenon, usada pelo grupo na Europa.

No entanto, Álvarez garante que o banco está preparado para aproveitar a boa fase de expansão dos negócios latino-americanos. O crédito está crescendo muito, disse, não só no Brasil onde o banco ampliou essas operações em 42% em 2005. No México, o crescimento foi de 35%; e, no Chile, de 19%. "Com a bancarização e o crescimento da renda, o crédito está aumentando. Há uma mudança no mix dos negócios", afirmou.

O lucro líquido do Santander na América Latina foi de US$ 1,018 bilhão no primeiro trimestre, 35% acima a igual período de 2005. No Brasil, o crescimento foi de 30%; no México, de 30%; no Chile, 48%; e nos demais países, 31%. Todos esses valores são em dólares. Em moeda local, o lucro líquido do Santander Banespa cresceu 41,3%, para R$ 461 milhões. "Nunca houve um primeiro trimestre tão bom", disse Álvarez, que atribui o desempenho a uma combinaçâo de vários fatores: a boa liquidez internacional, apreciação das moedas locais e desenvolvimento dos negócios de crédito. "É na America Latina que o Santander mais cresce. "

Álvarez sabe que a bonanza esta para acabar. "Esse cenário está começando a mudar, com a elevação dos juros americanos. Afinal, o custo da nossa matéria-prima está subindo". Segundo o executivo, a alta dos juros pode reduzir o ritmo de crescimento das carteira de crédito e aumentar o valor dos depósitos. "O jogo dependerá muito da estrutura financeira de cada banco: menos crédito com base mais forte de depósito pode resultar em lucros maiores, sem levar em conta a qualidade das carteiras que pode se deteriorar um pouco. Esse cenário nos faz bem."

De toda forma, o grupo Santander tem procurado equilibrar os resultados. Cerca de um terço vem da América Latina. O percentual do lucro, por volta de 45%, é feito na Europa continental, onde o banco está nos mercados de maior crescimento, inclusive a Espanha, e tem feito investimentos no financiamento ao consumo em vários deles, como Alemanha, Polônia e Itália. Se as aquisições estão suspensas na América Latina, continuam na Europa. E acabam de começar nos Estados Unidos, onde o banco adquiriu 19,8% do Sovereign Bank.