Título: Santander defende queda da taxa de juros no Brasil
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2006, Finanças, p. C8

Há espaço para a redução dos juros brasileiros. A posição é de um dos maiores bancos do mundo e um dos maiores investidores do mercado financeiro local, o espanhol Santander. "O Brasil deveria buscar juros reais menores. Os juros brasileiros estão 12 pontos acima dos americanos. Isso é muito, especialmente considerando que as variáveis fundamentais estão muito boas", disse o diretor geral financeiro do Santander, José Antonio Álvarez, ao comparar a estimativa de inflação brasileira pouco superior a 4% neste ano com os juros básicos atuais de 15,25%,

No entanto, a política monetária conduzida com mão de ferro pelo Banco Central brasileiro foi elogiada, ontem, em exposição sobre a economia da América Latina feita por especialistas do banco para um grupo de jornalistas da região, reunidos na Espanha. Os especialistas também consideraram o baixo crescimento do país como o preço a pagar pela estabilidade obtida que, agora, já abre espaço para a retomada.

"Em 25 anos, nunca foi possível discutir o crescimento como agora. Há que tentar mudar as condições microeconômicas. Estas sim emperram o crescimento. O compulsório de 70% para os bancos, por exemplo, tem um custo no crescimento", disse o diretor de estratégia para a América Latina, José Juan Ruiz.

O especialista afirmou que os mercados emergentes parecem ter mais problemas em lidar com o impacto da abundância de investimento externo na taxa de câmbio do que com a escassez. Mas, elogiou o exemplo firme do Banco Central brasileiro que deixou o câmbio flutuar, apesar de a cotação ter vindo de R$ 3,80 por dólar em 2002 para até R$ 2,10 neste ano, sem perder de vista o controle da inflação. "Só um banco central com muita credibilidade como o brasileiro poderia fazer isso", afirmou Juan Ruiz.

Segundo o estrategista, até há quatro anos, o Brasil convivia com os severos desequilíbrios macroeconômicos e teve que impor como maior desafio a estabilização econômica e não o crescimento. "Hoje a estabilidade foi alcançada, a credibilidade do banco central idem. É isso que lhe permite crescer", afirmou Ruiz, acrescentando que "olhar apenas as taxas de crescimento a curto prazo não é uma forma correta de analisar o assunto".

Ruiz, que trabalhou o governo espanhol em 1982, lembrou que até 1993 a Espanha passou cinco anos sem crescer, quando então a inflação baixou para 5% e os investidores estrangeiros começaram a comprar títulos na moeda local. A primeira dessas emissões, contou, foi de um título de 10 anos que pagou 17% quando a inflação estava em 6%.

"Até que se consiga criar os instrumentos e, mais que tudo, o consenso no país de que não é bom ter inflação alta e nem déficit fiscal e em conta corrente, leva muito tempo e custa muito porque é preciso sacrificar o crescimento", afirmou Ruiz.

O estrategista afirmou que a América Latina está destruindo "três vacas sagradas" dos economistas ao mostrar que é possível crescer com inflação baixa, sem déficit em conta corrente e sem dívida. "Na América latina se pode ter taxas de inflação de 5% com crescimento de 4%."