Título: Dilma teme desgastar-se no jogo paulistano
Autor: Exman ,Fernando
Fonte: Valor Econômico, 06/03/2012, Política, p. A9

A presidente Dilma Rousseff está decidida a ajudar a impulsionar a candidatura do petista Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo, inclusive submetendo algumas das articulações para a mudança de seu ministério ao cenário político paulistano. Não está disposta, entretanto, a perder capital político ou expor-se a ponto de poder ter debitada em sua conta uma eventual derrota do ex-ministro da Educação.

A avaliação de autoridades do Palácio do Planalto é que uma vitória do PT na capital de São Paulo, maior colégio eleitoral do país, é muito importante para enfraquecer a oposição. Não será, por outro lado, um fator determinante no jogo da sucessão em 2014.

A candidatura de Haddad foi bancada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que conseguiu enterrar as pretensões eleitorais de outros líderes do PT com carreiras políticas mais robustas em São Paulo. Até agora, porém, a candidatura de Haddad não decolou. Esse fato fez com que partidos da base aliada vissem como promissora a construção de uma terceira via em vez de uma imediata polarização entre PT e PSDB.

Segundo recente pesquisa do Datafolha, o petista permanece estável em todos os cenários consultados, com menos intenções de votos que seus principais concorrentes. O ex-governador José Serra obteve 30%, enquanto Celso Russomanno (PRB) atingiu 19%. Na sequência apareceram Netinho de Paula (PCdoB) com 10%, Paulo Pereira da Silva (PDT) alcançando 8%, Soninha Francine (PPS) somando 7%, Gabriel Chalita (PMDB) com 7% e Fernando Haddad totalizando 3%. No levantamento anterior, feito em janeiro, o tucano aparecia em situação de empate técnico com Russomano. Serra só anunciou que é pré-candidato na última semana.

Com esse cenário como pano de fundo, Dilma quer resolver a situação de PR e PDT em seu governo. Atualmente, dizem auxiliares da presidente, a tendência é o PDT permanecer à frente do Ministério do Trabalho. O problema é que o antigo partido de Dilma está dividido. Pelo menos por ora, o deputado Vieira da Cunha (PDT-RS) é considerado o favorito para suceder Carlos Lupi, que deixou a Pasta em meio a denúncias de irregularidades. No entanto, a nomeação do gaúcho, que foi promotor de Justiça na Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre e poderia sinalizar uma mudança na gestão do Ministério do Trabalho, sofre resistências da ala sindical do partido e de parte da cúpula do PDT.

O deputado Brizola Neto (RJ), que também é próximo a Dilma, é outro candidato ao posto, mas enfrenta a rejeição de Lupi. O ex-ministro do Trabalho e o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, pretendem emplacar o nome do secretário-geral do PDT, Manoel Dias. Diante da demora de Dilma para resolver a questão, o PDT resiste a aderir à candidatura de Haddad. Além de manter a pré-candidatura de Paulo Pereira da Silva, flerta com os tucanos.

Como resultado, articuladores políticos do governo federal chegaram a mencionar a possibilidade de o Ministério do Trabalho ser entregue a um representante do bloco parlamentar formado por PSC e PTB. O PSC já sinalizou apoio ao pemedebista Gabriel Chalita, enquanto o PTB lançou a pré-candidatura de Luiz Flávio Borges D"Urso. O petebista teve apenas 1% das intenções de voto, segundo o Datafolha.

Comportamento semelhante ao do PDT tem o PR, que ameaçou lançar o deputado Tiririca como candidato próprio a prefeito de São Paulo ou até integrar a chapa de Serra. A insatisfação do PR deve-se ao aviso de Dilma de que o partido não retomará o comando do Ministério dos Transportes, atualmente chefiado por Paulo Sérgio Passos. O técnico é filiado ao PR, mas o partido não o considera sua indicação. O presidente do PR, senador Alfredo Nascimento (AM), também deixou o cargo em meio a denúncias.

Dilma cogitou promover uma troca entre PR e PMDB nos ministérios da Agricultura - atualmente com os pemedebistas - e Transportes. O PR diz não aceitar a mudança. Já o PMDB fez chegar ao Planalto a mensagem de que também não considera a alteração uma boa ideia, pois acredita que não teria o controle do Ministério dos Transportes na prática. Nesse arranjo, o bloco formado por PSC e PTB não ficaria com um ministério, mas seria contemplado com outro cargo estratégico na máquina pública federal.