Título: Manifesto do PMDB contra o PT antecipa sucessão no partido
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 06/03/2012, Política, p. A10

O manifesto assinado pela maioria da bancada do PMDB na Câmara dos Deputados que será divulgado oficialmente hoje, além de atacar o PT, acabou por antecipar a discussão sobre a sucessão na direção do partido. Integrantes do grupo que redigiu o texto, liderado pelos deputados Osmar Terra (RS) e Danilo Forte (CE), querem derrubar o grupo do presidente interino da legenda, senador Valdir Raupp (RR), nas eleições internas de janeiro.

A avaliação é de que Raupp enfrenta problemas na Justiça que fragilizam sua condição de presidente. Além disso, o grupo que o sustenta no posto - o mesmo do vice-presidente da República, Michel Temer, do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e do líder no Senado, Renan Calheiros (AL) - desde o início da gestão da presidente Dilma Rousseff tem atuado mais por interesses próprios, segundo acusa o grupo rival, do que pelo partido. Interesses próprios como são a manutenção de Temer na chapa presidencial em 2014, a eleição de Alves para a presidência da Câmara e a de Renan para o Senado em 2013.

Com isso, diz a ala rebelde, o atendimento a demandas gerais dos outros integrantes do PMDB passou a ser secundário. As reclamações começaram a crescer e no ano passado formou-se em junho o chamado "grupo dos 35", que reunia deputados do movimento "Afirmação Democrática", em sua maioria do Rio Grande do Sul e liderados por Terra, aos novatos, liderados por Forte. Naquele momento houve promessas de mudanças de atitudes tanto da cúpula do PMDB quanto do governo, que não se concretizaram. Neste ano, antes do Carnaval, deputados da Afirmação se reuniram na residência de Darcísio Perondi (RS) com Temer, ocasião em que o vice-presidente ouviu novamente as reclamações. Pediu calma e paciência.

Com a informação de que o governo era contra alterações no texto do Código Florestal aprovado no Senado - e que derruba uma emenda redigida por deputados do PMDB e aprovada pela ampla maioria da Câmara -, os deputados resolveram protestar publicamente e fazer o manifesto. Ainda mais com o posicionamento de Alves de que não se manifestaria contra o texto do Senado com a mesma contundência com que se manifestara em 2011. Afinal, diz a ala rebelde, a eleição para a presidência da Câmara está mais próxima e mais indisposições com o governo podem lhe prejudicar. Sem a maioria do PMDB, o Planalto até cogita adiar a votação do Código, pois teme que outras bancadas inspirem-se na ideia de confronto com o PT exposta no manifesto.

Seu texto final, escrito por Danilo Forte e Osmar Terra, carrega a ideia central de que há a utilização petista da máquina pública federal para avançar sobre as prefeituras pemedebistas: "Estamos vivendo uma encruzilhada, onde o PT se prepara com ampla estrutura governamental para tirar do PMDB o protagonismo municipalista e assumir seu lugar como maior partido com base municipal do país", diz o texto.

Mas é no último parágrafo que está presente toda a estratégia do grupo: "O encontro nacional das bases pemedebistas no dia 25 de abril, onde os representantes dos municípios possam vir a Brasília participar do debate visando uma retomada municipalista com vistas às eleições de 2012". Neste encontro, a ideia será encampar essa insatisfação da base do partido, pressionar a cúpula a um posicionamento mais incisivo contra o "avanço petista" e mostrar-se, na condição de idealizadores do encontro, como alternativa para a sucessão de Raupp em janeiro.

Até lá, espera-se angariar apoio também no Senado, em especial para o "grupo dos 8", os senadores do PMDB que assumiram nesta legislatura e que contestam internamente o poder de Renan e do presidente da Casa, José Sarney (AP). O senador Vital do Rego Filho (PB) deve ser a porta de entrada. Um dos líderes do "grupo dos 8", foi consultado sobre o manifesto dos deputados e chegou a sugerir que a redação contivesse a entrega dos cargos no governo.

Os rebeldes do PMDB, porém, não têm um nome certo para a sucessão de Raupp. Nem sequer colocam esse projeto como prioritário, tendo em vista que, antes, é preciso prevalecer sobre o PT nas eleições municipais. Fala-se, contudo, em duas pessoas: o vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira Lima, e o deputado federal Eliseu Padilha (RS).