Título: Ministério impõe travas a embarques de frango
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2006, Agronegócios, p. B13

O presidente mundial do grupo Doux, Charles Doux, comunicou ontem ao governador gaúcho, Germano Rigotto, a retomada dos abate na Doux Frangosul nos níveis anteriores à crise da gripe aviária justamente quando o Estado se debate com os efeitos do aparecimento da doença de Newcastle no município de Vale Real. O foco foi confirmado na semana passada e agora o Ministério da Agricultura suspendeu a emissão de certificados sanitários para as exportações de carne de aves gaúcha para Rússia, Japão e União Européia.

Segundo o superintendente federal da Agricultura no Estado, Francisco Signor, a suspensão dos certificados é automática e segue os critérios dos acordos bilaterais com cada país. Para o Japão, um dos principais importadores de carne de aves do Rio Grande do Sul - com fatia de quase 15% nos embarques totais de 263,8 mil toneladas até maio -, a medida vale por três meses para as aves originárias de um raio de 50 quilômetros em torno do foco.

Para a Rússia, que absorveu 10% das exportações gaúchas de janeiro a maio, a suspensão vale para a carne originária de todo o Estado durante seis meses. No caso da UE (12,4% de participação), que segundo o ministério não restringirá as importações do país por conta própria, a restrição limita-se ao raio de dez quilômetros ao redor do foco, por três meses. Conforme a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), o Paraguai, com 0,02% de participação, chegou a suspender as compras, mas voltou atrás. Signor disse que Nova Caledônia, arquipélago no Oceano Pacífico, interrompeu as importações.

O Rio Grande do Sul é o terceiro maior exportador de carne de frango do Brasil, e respondeu por 25,2% sobre os embarques nacionais até maio. Segundo o diretor técnico da Asgav, Éder Barbon, a situação mais preocupante é a da Rússia, porque as restrições atingem todo o Estado, e por mais tempo. Mas ele está otimista porque nenhum novo caso da doença surgiu desde o aparecimento das primeiras suspeitas, em maio.

Segundo Barbon, outro problema é a suspensão total das exportações e vendas de matrizes para outros Estados. As aves vivas não recebem certificado sanitário do ministério para embarque ao exterior e não podem passar pelo território de Santa Catarina, que abriu três corredores sanitários apenas para produtos industrializados. Conforme Signor, ontem São Paulo também passou a exigir sorologia em todo o plantel gaúcho para retomar as compras de aves vivas do Estado.

Mesmo assim, se não surgirem sinais de alastramento do foco, onde no fim de semana foram introduzidas aves "sentinelas" para confirmar a eliminação do vírus, a Doux Frangosul pretende chegar, em agosto, ao ritmo de 1 milhão de aves abatidas por dia, sendo 90% nas três plantas no Rio Grande do Sul e 10% no Mato Grosso do Sul. Em março, com os efeitos da gripe aviária, o volume chegou a 700 mil e agora está em 850 mil, disse o diretor geral da empresa no Brasil, Aristides Vogt. Segundo ele, 80% da produção é destinada à exportação, e só cinco dos 3,5 mil produtores integrados da empresa estão no raio de 10 quilômetros em torno do foco de Newcastle.

Ainda que a UE tenha se mostrado satisfeita com as medidas de controle adotadas, a doença no Brasil preocupa e vem em um momento de particular temor com outro mal, a gripe das aves. Ontem, o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (Ecosoc) alertou para a expansão geográfica do vírus desde fevereiro, com casos em 32 países de África, Europa e Oriente Médio. O Banco Mundial estima que uma pandemia poderá custar até 3,1% do produto interno bruto mundial. Até agora, o prejuízo para produtores de frangos na Ásia e Europa alcançou cerca de US$ 10 bilhões. (Colaborou Assis Moreira, de Genebra)