Título: Lula diz que cobrará de pemedebistas desvios de conduta nos ministérios
Autor: Leo, Sérgio e Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2006, Política, p. A6

Ao justificar a decisão de dar novos cargos ao PMDB para garantir o apoio do partido à reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou que os ministros serão responsabilizados por eventuais problemas nos órgãos sob seu controle. Ele confirmou que o governo adotou a prática da "verticalização", pela qual o partido responsável pela nomeação de todos os subordinados nas pastas que lhes couberem. "É mais que justo que o partido que tem um ministério responda por todos os seus órgãos", disse o presidente.

Lula minimizou as críticas de que os Correios, em que foram nomeados novos ocupantes indicados pelo PMDB, também são o alvo de denúncias que levaram à CPI do Mensalão. Os Correios estão subordinados ao Ministério das Comunicações, do pemedebista Hélio Costa.

O presidente advogou sua aliança "informal" com o PMDB pela presença e influência política do partido em todo o país, mas reconheceu que a agremiação está dividida em relação ao apoio à sua candidatura. Sem a presença de integrantes da direção partidária e de lideranças históricas da sigla, representantes de diretórios estaduais do PMDB que apóiam a reeleição do presidente foram recebidos ontem à noite por Lula, levados pelos senadores José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL), presidente do Senado.

Os governistas esperam preparar o PMDB para uma participação mais efetiva em um eventual segundo mandato. Querem participar da formulação das políticas de governo e ocupar cargos estratégicos no primeiro escalão. A aposta é que, apesar das divisões internas, o PMDB será imprescindível à governabilidade num futuro mandato. O PT, desgastado pelo envolvimento no escândalo do mensalão, que atingiu ministros petistas e parlamentares da sigla próximos ao Planalto, pode sair enfraquecido das eleições, assim como parte dos partidos aliados. Entre os pemedebistas, há quem defenda a formação de uma nova agremiação, unindo a ala governista do partido com setores do PT e até PSDB, como melhor solução para garantir a governabilidade em um eventual segundo mandato de Lula.

Os governistas do PMDB defendem que o partido integre, desde já, a coordenação da campanha de Lula. "O partido deve ter um representante na campanha", afirmou Sarney, um dos nomes citados para a função. Ele negou que participará, alegando ser candidato nas eleições de outubro (ao Senado). Ele defende que a convenção do partido, marcada para março de 2007, oficialize o apoio ao governo. Isso implicaria troca do comando partidário, já que o atual presidente, deputado Michel Temer (SP), é da ala oposicionista. "A identidade da base é muito mais com o Lula. O partido tem raízes muito sólidas e ninguém comanda a sigla", disse.

O ministro da Coordenação Política, Tarso Genro, não descarta a participação do PMDB na discussão do programa de governo de um eventual segundo mandato de Lula. "O programa não será de um partido, mas composto por um conjunto de diretrizes decorrentes de uma coalizão", resumiu.

Os governistas do PMDB não divulgaram a relação dos correligionários que participariam do jantar com Lula. Falavam em representantes de 19 a 20 diretórios. Também contavam com a presença de dissidentes de diretórios que não estão apoiando o PT, como São Paulo, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Santa Catarina, Pernambuco, Paraná e Goiás.

Em São Paulo, o diretório pemedebista ainda não oficializou se estará no palanque de Lula. O PMDB paulista convocou uma reunião da Executiva estadual para hoje e deverá apresentar qual comportamento seguirá em relação à eleição presidencial. O presidente do diretório, Orestes Quércia, tinha liberado o voto dos filiados e a tendência, a ser confirmada hoje, é de não definir um apoio claro. "O partido não deve fechar questão", disse o líder na Assembléia, Baleia Rossi. "Se o diretório decidir por apoiar o presidente Lula, poderá haver uma divisão", afirmou.