Título: Verba é mantida apesar do aumento de vagas
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2006, Especial, p. A12

A forte expansão do número de vagas e uma relação conflituosa com os professores foram a marca do governo Alckmin no ensino universitário e profissionalizante. Em seus cinco anos de governo, Alckmin procurou ampliar a rede de ensino sem aumentar a vinculação de recursos para a área. Em 2001, a dotação orçamentária global para USP, Unicamp, Unesp e o Centro Paula Souza, que administra as Faculdades de Tecnologia (Fatecs), representava 5,5% do total do Estado. Em 2006, significou 5,6% da dotação orçamentária, mesmo com uma expansão de 43% no número de vagas na rede pública de ensino superior. O número de Fatecs saltou de nove para 26.

O saldo foi a abertura de um campus da USP na Zona Leste da capital e a ampliação de um campus no interior, sete campi da Unesp no interior, dezessete faculdades de tecnologia, 26 escolas técnicas e grandes greves todos os anos. "Alckmin expande a rede mantendo o mesmo patamar de gastos. Os novos campi estão sendo financiados com os nossos salários", protesta o presidente da Associação dos Docentes da Unesp (Adunesp), Milton Vieira do Prado Júnior. O salário inicial de um professor com doutorado em regime de dedicação integral, na Unesp e na USP, é de R$ 5, 5 mil. Durante o governo Alckmin, o total de vagas oferecidas por ano pela USP, Unicamp, Unesp e Fatecs passou de 18,1 mil em 2001 para 25,8 mil este ano, um crescimento de 43,2%, equivalente a duas Unicamp. Nos seis anos do governo Mário Covas, a expansão foi de 10,4%.

No ano passado, Alckmin vetou a iniciativa dos deputados estaduais de elevar de 9,57% para 11% a vinculação do ICMS estadual para o ensino superior e de 30% para 31% a da educação como um todo, provocando a terceira greve universitária em seu governo. É um recorde na história do Estado. A primeira grande paralisação ocorreu no governo Maluf, em 1979. Desde então, ocorreu uma greve no mandato de Montoro (1983-1987), uma no de Quércia (1987-1991), duas no de Fleury (1991-1994) e uma no de Covas (1995-2001).

Para o vice-presidente da Associação dos Docentes da USP, Francisco Miraglia, o acirramento era um processo esperado. "Há uma disputa pela receita do Estado. À medida que o governo de São Paulo perdeu receita em função da guerra fiscal e da desvinculação de receitas da União, aumenta o nível de conflito", disse Miraglia, para quem as greves tornaram-se inevitáveis pela forma como foi feita a expansão. (CF)