Título: Faculdades de tecnologia, que funcionam sem internet, contrastam com USP-Leste
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2006, Especial, p. A12

As soluções emergenciais são comuns nas novas Faculdades de Tecnologia (Fatecs) inauguradas no governo Alckmin em São Paulo. Das unidades novas, muitas funcionam provisoriamente em espaços vagos de escolas de tecnologia, inclusive a de Pindamonhangaba, terra natal de Alckmin. Nas cidades em que foram feitas parcerias com as prefeituras, como Mauá, a Fatec em seu primeiro ano funcionou em um andar de uma escola municipal de cursos supletivos. Em Botucatu, foi inicialmente instalada no anexo de um hospital. Os contratos de trabalho, emergenciais, são por tempo determinado.

Tudo é feito de modo acelerado para cumprir o cronograma de expansão: até Alckmin assumir, eram nove faculdades. Depois vieram 17 inaugurações em três anos . Mais três irão ocorrer este ano e seis em 2007. Em mais de uma ocasião, o ex-governador afirmou enquanto estava no cargo que queria ser conhecido como "o governador das Fatecs". Um mês antes da renúncia, inaugurou o prédio que serve para a Fatec e a Escola Técnica da Zona Sul da capital e anunciou a criação de mais sete unidades .

Boa parte do corpo docente trabalha com contratos temporários de dois anos. Com os contratos temporários, a Fatec contorna as dificuldades para fazer um concurso. A localização, o cronograma apertado e o salário pouco atraente (R$ 8,90 a hora-aula, sem contar as gratificações, que podem elevar os vencimentos em 50%) faz com que os concursos tenham pouca procura. Os contratos temporários garantem o funcionamento dos cursos dentro do prazo.

Na primeira Fatec inaugurada por Alckmin, na Zona Leste de São Paulo, com cursos de informática, logística e produção de plásticos, os alunos aguardam há quatro anos a internet. As turmas, entre 40 a 50 alunos por classe, se revezam para o uso de salas com dez a 15 computadores, que não funcionam em rede.

"Quando começamos, não havia biblioteca e sequer uma cantina", disse Luciano Murça Teles, que está no último semestre de logística. "As melhoras acontecem muito lentamente. As aulas de programação ficam comprometidas com o pequeno número de computadores", disse Pedro Baião, no penúltimo semestre de informática.

O contraste é total com o campus da USP-Zona Leste. Dentro de uma área cercada por um forte esquema de segurança, 1.020 alunos ocupam quatro prédios modernos, fruto de um investimento de R$ 83 milhões, o maior do governo em uma única unidade de ensino. As aulas usam recursos audiovisuais e não faltam computadores durante o período letivo. O ponto fraco ainda é a biblioteca: das vinte estantes de ferro, dez estão vazias.

Segundo informação da Secretaria de Ciência e Tecnologia, 47% dos alunos são oriundos de escolas públicas, ante 29% no campus principal da USP, e 21% do corpo discente é negro, ante 10% na USP antiga. A maioria dos alunos está fora do perfil de exclusão social.

"Optei por gestão ambiental para complementar a formação", disse Edson Fernando, 19 anos, que não trabalha, estuda turismo na faculdade privada Anhembi-Morumbi e mora em uma república perto do campus. Sua família é de Campinas. "Estou aqui porque a USP Leste é a única no Estado com curso de gerontologia, uma área aplicada da biologia", disse Loren Bianco, de Ibaté, que também mora em república. (CF)