Título: Mercados emergentes mostram maior maturidade após perdas
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Fonte: Valor Econômico, 12/07/2006, Finanças, p. C2

Assim como os políticos que caem em desgraça, os mercados emergentes são mais conhecidos por seus vícios do que por suas virtudes. Os anos passados pagando a dívida externa e equilibrando orçamentos depois das crises mexicana, asiática e russa da década de 1990 pareceram contar pouco em maio e junho, quando os mercados globais de ações tropeçaram e os investidores desovaram suas ações de mercados do mundo em desenvolvimento.

Não foi uma onda de venda de rotina. O banco Credit Suisse descreve o período de cinco semanas entre 8 de maio e 13 de junho, quando os mercados emergentes perderam um quarto de seu valor, como o pior desde o susto provocado pela Rússia oito anos atrás. Três moedas, a lira turca, o forint húngaro e o rand sul-africano, caíram para perto dos níveis mais baixos em três anos. Entretanto, a turbulência não perdurou. Talvez isso seja uma medida da crescente maturidade dos mercados emergentes, que iniciaram uma recuperação antes que alguém pudesse inventar um nome para o drama (que inevitavelmente seria classificado de "crise").

Algumas características dessa recuperação - o índice de mercados emergentes MSCI reagiu 15% desde 13 de junho - sugerem que os investidores nos mercados emergentes podem finalmente estar crescendo. Depois de um pânico inicial, em que a maioria dos mercados com liquidez caíram mais facilmente, os investidores se tornaram mais seletivos.

Por exemplo, a moeda brasileira se recuperou rapidamente; nos dias do contágio do efeito tequila, ela teria registrado vendas em massa. A Hungria e a Turquia foram os mercados europeus mais duramente atingidos em junho, mas o mercado de ações da Rússia, alavancado pelos altos preços do petróleo, subiu 2,4%.

Além disso, os investidores agora parecem estar em busca de barganhas, mesmo nos mercados mais vulneráveis. Em maio e junho, a Turquia foi particularmente afetada por causa de seu elevado déficit em conta corrente e moeda cara. Agora, alguns investidores afirmam que a queda da lira nos últimos dois meses poderá ajudar a restaurar o equilíbrio; os juros overnight de 22,25% aumentam a atratividade. Em 3 de julho, a moeda subiu mais de 2% ante o dólar, depois do anúncio de números para a inflação melhores que os esperados.

Em outros lugares, a maré já virou. Segundo o Goldman Sachs, os investidores estrangeiros aplicaram US$ 1,5 bilhão a mais em ações de mercados emergentes da Ásia, do que sacaram na última semana de junho, depois de três semanas de vendas líquidas. Isso ajudou a elevar o índice MSCI dos mercados de ações asiáticos (excluindo o Japão) em 3,7%, o maior ganho semanal desde outubro.

Há várias razões para os investidores nos países emergentes se sentirem mais inclinados a continuar confiando nesses mercados, do que antes. Conforme observa a Pimco, uma grande administradora de ativos, no ano passado os PIBs combinados do Brasil, China, Índia e Rússia, medidos às taxas do mercado de câmbio, superaram o do Japão, a segunda maior economia do mundo. E eles estão crescendo muito mais rapidamente que o PIB do Japão.

As relações de dívida soberana sobre o PIB das economias emergentes estão caindo, e mais dívida está sendo levantada em moedas locais ou por empresas. Em maio, os países em desenvolvimento não emitiram nenhum título de dívida soberana em moeda estrangeira, mas as empresas dessas economias levantaram US$ 8 bilhões, segundo a Pimco. Os preços das ações dos mercados emergentes continuam modestos em relação aos lucros, comparados aos picos registrados durante o boom "pontocom". Alguns exportadores, como a Samsung Electronics da Coréia do Sul, são tão internacionalizados que suas avaliações carregam pouca relação com seus países de origem.

O risco, no entanto, é de que essa ênfase no gerenciamento prudente da dívida e o crescimento liderado pelas exportações sejam um plano para a guerra de ontem - aquela que enfraqueceu os mercados emergentes na década de 1990. Stephen Roach, principal economista do Morgan Stanley, alerta que futuros problemas poderão surgir em um quadrante diferente. "No topo de minha lista está a possível capitulação do consumidor americano", escreve ele.

Em 2005 as exportações foram uma proporção muito maior da produção dos países em desenvolvimento do que nos países ricos, deixando os mercados emergentes mais suscetíveis a uma queda da demanda americana. Isso pode não estar ainda computado nos preços dos ativos dos mercados emergentes, acredita Roach. Esse temor é compartilhado por outros, que afirmam que faz sentido mudar para ativos mais ligados aos mercados domésticos, como os bancos.

Dito isso, uma retomada do crescimento do Japão e da Europa deverá amortecer o golpe aos exportadores de uma eventual retração dos Estados Unidos. De qualquer modo, se todas essas economias ricas tropeçarem, não serão apenas os mercados emergentes que vão sofrer.