Título: Pagamento ao Clube de Paris foi decisivo
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2006, Finanças, p. C8

A melhora no rating da OCDE para o Brasil confirma a apreciação dos países industrializados de que a economia brasileira está mais sólida, dizem fontes da entidade. A redução dos prêmios nas importações já vigora desde o começo deste mês e as taxas variam dependendo do produto importado.

A OCDE não justifica a mudança no ranking, alegando que as decisões do Comitê de Créditos a Exportação são "técnicas e confidenciais". Mas Cristoph Sievers, presidente da Agencia Suíça de Garantia contra Riscos a Exportação, diz que, primeiro, os países constataram que o Brasil vai melhor. E segundo, contribuiu muito o fato de Brasília ter pago antecipadamente a dívida junto ao Clube de Paris, a entidade que congrega os principais governos credores.

Como diz um especialista da organização, quando o Brasil estava classificado no ranking 5, a avaliação era de que "podia pagar" os compromissos externos. Agora, no ranking 4, quer dizer que "pode e vai pagar". A redução dos prêmios é "imediata e significativa", segundo o suíço Sivers, mas ele não dá detalhes.

O Comitê de Crédito a Exportação, reunindo representantes das agências de crédito à exportação dos países membros, encontra-se duas vezes por ano e revê a classificação de um país sempre que observa "mudança fundamental" em sua economia.

Na reunião do último dia 29 de junho, os funcionários mostraram-se mais "positivos" sobre a economia brasileira e julgaram que era tempo de constatar o menos risco do país.

Fonte da OCDE explicou que o comitê levou em conta critérios "qualitativos e quantitativos", incluindo os pagamentos efetuados pelo país ao FMI e ao Clube de Paris, queda da relação divida interna/PIB, melhora do perfil da divida externa etc.

O porta-voz Nicholas Bray insistiu que a avaliação seguiu "critérios técnicos, burocráticos" sobre os reembolsos e não quer dizer aprovação do ponto de vista político.

Enquanto os suíços confirmavam que a mudança nos prêmios é imediata, a Coface, a agencia francesa de crédito oficial a exportação, insistiu que nada mudará nas suas transações com o Brasil. O porta-voz Bernard Blazin argumentou que, primeiro, o rating do Brasil na Coface já é bom - B numa classificação de A a D (para o maior risco). E, segundo, a avaliação da agência leva em conta uma mistura de dados coletados junto a agencias de classificação de risco como Standard & Poor's, enquanto o rating da OCDE prioriza o pagamento da divida soberana, segundo ele.

Normalmente, o comitê da OCDE vê uma melhora de 4 para 3 como o reflexo de que a situação econômica de um país é "realmente boa". A Colômbia também melhorou seu ranking para o mesmo nível do Brasil. Uruguai, República Dominicana, Guatemala e Azerbaijão melhoraram de 6 para 5. A Argentina continua no ranking 7, que reflete o maior risco de não reembolsar os créditos.

O Irã, há seis meses, teve seu ranking melhorado de 6 para 5, quando os bancos privados internacionais já começavam a retrair as transações com o país por causa da instabilidade provocada por seu novo governo.