Título: Senado mira Dilma e compadre de Lula no caso da aérea
Autor: Vilella, Janaina
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2006, Empresas, p. B3

Aproveitando a desatenção dos parlamentares da base governista, a Comissão de Infra-Estrutura do Senado aprovou ontem a convocação da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para prestar esclarecimentos sobre a venda da VarigLog à Volo do Brasil. O requerimento para ouvir a ministra partiu dos principais líderes da oposição.

Colocado em votação com 20 senadores presentes, foi aprovado rapidamente e de forma simbólica, por unanimidade, sem que os parlamentares da base aliada tivessem se pronunciado.

No mesmo requerimento, os senadores aprovaram ainda a convocação do ministro da Defesa, Waldir Pires, do diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, e do presidente da Infraero, José Carlos Pereira. Dilma já tinha sido "convidada" pela comissão para falar sobre o caso Varig, antes da compra da VarigLog pela Volo, mas agora a oposição decidiu engrossar o tom de voz.

A intenção do PFL e do PSDB é investigar a influência do advogado Roberto Teixeira e de sua filha, Valeska, no aval dado pela Anac ao negócio. Ambos defendem a Volo, que tem participação acionária do fundo americano de investimentos Matlin Patterson. Segundo o Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), essa participação é superior ao limite de 20% imposto pelo Código Brasileiro de Aeronáutica. Teixeira é um dos melhores amigos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Valeska é afilhada de casamento dele e da primeira-dama Marisa Letícia. A Casa Civil recomendou a anuência da Anac à venda da VarigLog para a Volo.

Com a semiparalisia das atividades legislativas, por causa das eleições, o depoimento de Dilma só deve ocorrer a partir de agosto. Mas a idéia não é centralizar o depoimento nas soluções para a crise da Varig, e sim focalizar o suposto lobby feito por Teixeira. Os périplos do advogado por Brasília se intensificaram no atual governo. Membro do antigo conselho de administração da Transbrasil, ele e sua filha visitavam freqüentemente o ex-ministro da Defesa José Viegas e o ex-presidente da Infraero Carlos Wilson, que os evitavam.

No requerimento, os senadores da oposição falam em "inadmissível intromissão" da Casa Civil nos trabalhos da Anac. Também acusam o órgão regulador de ter abdicado das suas prerrogativas ao acatar as justificativas da Volo para a capitalização da empresa. O Snea diz que os três sócios brasileiros são apenas "laranjas" do fundo americano.