Título: Volkswagen debate plano de cortes em audiência pública
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2006, Empresas, p. B8

A direção da Volkswagen participa hoje de uma audiência pública marcada em Brasília para prestar esclarecimentos a respeito do plano de reestruturação, que prevê perto de 6 mil demissões no país. A audiência foi proposta pela Comissão de Desenvolvimento Econômico e Trabalho da Câmara dos Deputados.

O encontro deveria reunir o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, dirigentes sindicais e representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O banco estatal emprestou dinheiro para a Volkswagen modernizar suas linhas e aumentar a produção, principalmente com vistas a atender o mercado externo.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José López Feijóo, disse ontem que não vai comparecer à audiência porque, segundo ele, "este não é o momento propício". O sindicalista diz que o que aconteceu até agora no episódio da Volkswagen - anúncio da reestruturação e negociações frustradas com sindicatos - não é tudo.

"Muita coisa está por acontecer", diz. O sindicalista se refere às suspeitas dos representantes dos trabalhadores de que haverá demissões nos próximos dias na fábrica de Taubaté (SP), onde é produzido o Gol. Além disso, Feijóo está na expectativa de uma reunião na Volkswagen na Alemanha, ainda este mês, na qual, segundo ele, a companhia definirá os próximos investimentos em todo o mundo. Feijóo disse que agradecia o convite dos deputados, mas estava disposto até a propor o adiamento da audiência.

A argumentação da Volkswagen do Brasil para justificar a necessidade de enxugamento na audiência de hoje será apresentada pela diretora de assuntos governamentais da Volkswagen do Brasil, Elizabeth Carvalhaes.

Presente no Brasil desde 1953, a Volkswagen tem 22 mil funcionários e obteve uma receita de R$ 16 bilhões no ano passado. Ainda em 2005, a empresa produziu 645 mil veículos, dos quais 266 mil foram exportados.

Maior exportadora da indústria automobilística, a montadora alemã iniciou o ano com a previsão de vender este ano 229 mil veículos no exterior. Mas, com a valorização do real, as contas foram refeitas e agora a montadora não conta com mais do que 197 mil unidades. A direção da Volks aponta o problema cambial como um dos principais motivos da necessidade de reestruturação.

Mas o enxugamento que deve ser feito vem sendo adiado há cinco anos. O plano preparado pela direção da Volkswagen no Brasil para fazer demissões em massa, em 2001, não deu certo porque o atual ministro Luiz Marinho - então presidente do Sindicato dos metalúrgicos do ABC - conseguiu fechar com a direção mundial da companhia, na Alemanha, um acordo de estabilidade no emprego, que se encerra em novembro próximo.

Devido a esse acordo os cerca de 12 mil empregados da fábrica de São Bernardo do Campo estão com os empregos protegidos. A unidade do ABC será a mais afetada pelo novo programa de enxugamento porque é onde estão as linhas de veículos menos atualizadas. Mas em Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (PR) as demissões podem ocorrer a qualquer momento.